31.3.12

Março




Março não foi um mês em que tenha sido muito feliz. Aliás, não se pode dizer que em Março tenha sequer  sido feliz, o que também não quer dizer que tenha sido propriamente infeliz. Assim como a felicidade é uma coisa que se constrói, a infelicidade também é algo para que nos podemos preparar, antecipando paulatinamente os efeitos e amenizando os estragos. Será mais esse o caso do mês de Março. Mas se não foi, nem um mês feliz, nem um mês infeliz, foi seguramente um mês de muita consolidação e a ainda maior clarificação. Ir mais além desta visão é ser romântico e eu, embora disfarce bem com esta mania das florzinhas, sou mais para o pragmático. Um mês é um mês, mas tem Passado. 
Trinta dias têm um principio, um meio e um fim. Este Março termina aqui. O Futuro está sempre á mão de semear.

Cascais [ outras perspetivas ]




Cascais






































Hoje.

30.3.12

Sem tirar nem pôr

E eis que algumas horas depois de ter escrito o post abaixo, dou, sem querer, com o video que se segue.
Gostava de acreditar que os Zé Pedros Cobra deste país não desistirão nunca de acreditar que vale a pena acreditar, e com isso fazer com que tantos outros acreditem, naquilo que diz. E eu não queria dizer isto, mas eu já pouco ou nada acredito. Talvez por ter, certamente, mais uns anos do que ele. Talvez por sentir, pensar, viver e partilhar a vida, ipsis verbis de acordo com tudo o que expõe e não ver as poucas sementes que caem á terra e germinam, crescer e dar frutos. Talvez porque me vá faltando a vontade de acreditar que estas mensagens duram, por cá, muito para além de uns momentos de discurso clarividente, que muita gente aplaude sorridente e contente, mas que guarda no bolso mal levanta o cú da cadeira sim, hoje é um dos dias dos cardos e das urtigas do aviso ali em cima. Talvez porque esteja cansada. Muito! Talvez porque esteja farta. Tanto! E talvez porque para não ficar de uma vez por toda amarga queira continuar a acreditar que só tenho estado na hora errada a cruzar-me com as pessoas erradas e que o melhor, o melhor mesmo, será, em vez de me juntar a elas, aviar as malas para bem longe e bem depressa... 
A ver vamos, como diz o cego.

Apesar do meu enorme ceticismo, fiquem com este discurso, que é brilhante!

btw, recomendo vivamente a leitura de um livro que menciona, O caminho menos percorrido, que há muitos anos li


Da pobreza



É talvez uma frase batida, mas não deixa de ser absolutamente verdadeira. A verdadeira pobreza é a de espírito.Queremos muito, mas pensamos pequenino e fazemos na medida do indispensável. Raramente nos sentimos satisfeitos com o que temos e a maioria das vezes estamos insatisfeitos com quase tudo ao nosso redor. Cortamos á esquerda e á direita. Passamos a vida de olhos postos no que é dos outros. Vivemos colerizados no trânsito, na fila de supermercado, com o vizinho do lado, com o cão da vizinha da frente, com a mulher, o marido, os filhos, os namorados. Cultivamos escrupulosamente a crítica, somos esbanjados nas palavras desagradáveis, altruístas no bota abaixo, colocamos-nos com naturalidade no pedestal e ficamos comodamente á espera que a vida nos presenteie só com coisas boas. 
Dizer bom dia, ser educado, promover o elogio - o merecido, não o hipócrita, que desse sobra - incentivar e reconhecer o mérito e qualidades das pessoas á nossa volta, parece ser não só difícil como indesejável. 
Pior do que isso, de tão raro, quando alguém parece querer contrariar a maré, a maioria estranha. Recusa, sente-se desconfortável. Convive-se melhor com o que nos deita abaixo do que com o que nos valoriza, com o que nos faz acreditar que somos capazes de mais e melhor. É claramente mais fácil viver com a fasquia baixa. Se os outros não nos vêm com bons olhos e só identificam e assinalam os defeitos, qualquer coisa que venha não só está dentro das expetativas como facilmente supera o que esperam e esperamos de nós. E assim vamos caminhando, de mal estar em mal estar, de mãos dadas com a pequenez. A de espírito e a do lado da vida que escolhemos para morar, esta estranha casa do mal-estar geral que se entranhou nas paredes da alma lusitana. É triste que só consigamos brilhar promovendo a sombra dos outros. Mas parece que foi coisa que veio para ficar.

Bom dia, Chuva!

29.3.12

Fins de dia




Na agenda que se vai reorganizando entre as rotinas perdidas e rotinas novas, os fins de dia têm hora marcada com os amigos. Numa esplanada ou dentro de portas, pouco importa. Lisboa serve para retomar os hábitos que são feitos de laços, enquanto se prepara o caminho para continuar a viagem. 
Ontem, uma deliciosa groselha numa divertida companhia, num encontro há muito adiado.
Hoje, a matar saudades de uma parte que de mim ficou noutro lugar, há uma semana.
É por estas e por outras que me é fácil reconciliar contigo, cidade!

White is a peaceful place to live & love | 24







Retomar as rédeas dos dias





Prometi a mim mesma que hoje voltava á rotina de ter flores frescas em casa. Apeteciam-me flores brancas. Ultimamente o branco anda entranhado na alma. Havia muita escolha, sobretudo nas de aspeto mais silvestre, que são de longe as minhas preferidas. Mas a verdade é que para além de flores bonitas me apeteciam flores perfumadas. Gosto do doce aroma das rosas, mas como flores não me enchem de todo as medidas. Não há perfume como o dos cravos e receio que a maioria das pessoas não lhes ligue nenhuma. Eu adoro cravos, confesso. São simples, suaves ao toque, têm um aroma que se propaga no ar. Além disso, fazem-me lembrar os frou-frou dos vestidos do séc. XIX e os recortes nas sedas dos modelos vintage. A somar a isto tudo, num assomo de infantilidade, achei que combinavam na perfeição com a minha saia e o saco da Cath Kidston, que veio comigo na última viagem.
Esta manhã, esta borboleta procurava a liberdade na varanda cá de casa. Antes de lhe abreviar a angústia e lhe abrir a janela de par em par, guardei-a com a minha lente. Não é fotomontagem. A coisa é bem mais prosaica: o vidro está sujo de pó e vestígios de chuva pouco molhada e o sol estava na sua direção.
Bem vinda sejas aos meus dias, Primavera!

Hoje



Hoje as flores frescas vão voltar a casa.

Ás vezes




... Ás vezes basta chorar um bocadinho. Depois passa.
4

28.3.12

Dor

Dói mexer no mar. Naquela cor. Na areia fina que me escorre entre os dedos. O tempo.
Dói mexer no silêncio das noites primeiras. Nos passos a ecoar nas ruas. Nas palavras que se perderam na brisa noturna.
Dói mexer nas horas. As ganhas, as perdidas. As sonhadas. As adormecidas. Todas, que foram tantas.
Dói mexer cá dentro e viver lá fora. Ir a avenidas que não são minhas. Viver rotinas que não são nossas.
Dói o tempo a passar. Lento. As perguntas sem respostas. As respostas encontradas, á procura de nova casa.
Dói. Dói tanto. Ás vezes dói tudo e dói muito. Mas quando deixar de doer já não dói nada.

Concerto











Bom. Apesar de tudo, um concerto que terá sido demasiado pequeno para as expetativas, pelo menos as minhas. 
Por desvendar fica, mais uma vez, o mistério de boa parte de uma plateia que compra bilhete para se comportar como quem vai á missa. Definitivamente, ou é de mim, ou falta fibra a esta gente... Ou como diria a minha amiga Sónia haja saúdinha!

26.3.12

Dias fora



Pela estrada de pó segue paralelo um campo onde entre terra e areia se planta uma vida. Olha as papoilas, entre o trigo verde. Daqui a dois meses ali ao fundo vão erguer-se, orgulhosos, os girassóis. Árvores que jogam abraços uma á outra pela mão de uma rede que embala as sombras. No ar a certeza dos dias cálidos. Silenciosa habitação de doces murmúrios. Vais lá dentro? Trazes-me o livro? Nos frascos grandes de vidro, recordações do azul vizinho. Conchas, búzios, pedras-coração. 
Há um arado ao longe a lavrar terreno para semear família. Há dias em que se ouve tão perto.

Noite dentro

Não se quer dormir. O corpo não quer. Tem medo da morte. De se entregar a um descanso que os dias não lhe confirmam. Por entre os dedos, escorre o cheiro doce da espuma da barba, de um banho acabado de tomar, de uma camisola de lã acabada de vestir, o aconchego do corpo acabado de acordar. Dos beijos que se trocam. Do olhar. Retomam-se os gestos, os horários, a cadência dos dias. Os lugares. O pensamento, ai o pensamento, esse grande traiçoeiro, inimigo das horas mortas. E o corpo não dorme. Não quer dormir. Não consegue. Tem medo de acordar.

23.3.12

Seguir



Segue-se

Sempre que não ficamos ancorados á memória do que foi, á saudade do que podia ter sido, á desilusão do que não foi.
Sempre que se aceita, humildemente, o resultado
Sempre que não se guarda raiva nem rancor
Sempre que se fecha uma porta
Sempre que nos fecham uma porta
Sempre que abrimos uma janela
Sempre que nos abrem uma janela
Sempre que não se fica refém do que se esperava de alguém
Sempre que não ficamos reféns das expetativas dos outros
Sempre que não desistimos dos sonhos
Sempre que sabemos desistir dos sonhos que nunca passarão da sua condição
Sempre que não aceitamos metade porque o todo é a nossa parte
Sempre que acreditamos que mais vale metade de algo do que tudo do que é nada
Sempre que aceitamos que tudo tem um ciclo e que cada ciclo tem vários ciclos
Sempre que não ficamos a caminhar em círculos
Sempre que conseguimos olhar em frente
Sempre que conseguimos seguir em frente sem olhar para trás
Sempre que nos permitimos o desapego
Sempre que não nos sentimos culpados de nos desapegar
Sempre que não permitimos que nos façam sentir culpados pelas nossas escolhas
Sempre que trocamos a culpa pela responsabilidade
Sempre que não se perde a capacidade de recomeçar
Sempre que não deixamos de acreditar
Sempre que não nos demitimos de fazer o nosso caminho, escudados nas ações e omissões dos outros, e com isso não hipotecamos para a vida a capacidade de amar e lutar por dias melhores sob qualquer condição
Sempre que seguir, mais do que ficar, significa amar incondicionalmente

Sigo.

O principio de tudo




O homem converte-se aos poucos naquilo que acredita poder vir a ser. Se me repetir incessantemente a mim mesmo que sou incapaz de fazer determinada coisa, é possível que isso acabe finalmente por se tornar verdade. Pelo contrário, se acreditar que a posso fazer, acabarei garantidamente por adquirir a capacidade para a fazer, ainda que não a tenha num primeiro momento. 


Mohandas Gandhi, in 'The Words of Gandhi'

Verdade ou consequência



Não gosto de mentiras. As mentiras são seres vorazes, insaciáveis, que se devoram a si mesmas e tudo mais ao seu redor. Uma mentira raramente vem só. Mentir é um hábito que raramente se estranha e muito facilmente se entranha. Talvez porque cresçamos com demasiada regularidade rodeados delas. Mente-se porque sim. Porque é mais fácil, porque é mais simpático, porque se chega mais depressa a um determinado objetivo. A mentira é uma espécie de alcool comportamental. Toda a gente sabe que faz mal, mas há todo um hábito social que a legitima. Mentir, como beber acima do razoável, é socialmente compreensivel. Nada que umas horas de ressaca não cure. Até á próxima bebedeira existencial.
É verdade que há quem confunda franqueza e frontalidade com falta de educação, respeito, grosseria. Dizer tudo como os malucos, não é necessariamente um ato de coragem perante a verdade. A maioria das vezes é pouco mais do que mera insensibilidade ou intenção clara de ofender, gratuitamente.
No meio de tudo isto, há ainda quem se dedique com esmero a penalizar a verdade. São normalmente os perfeitos, os intocáveis, os impolutos desta vida. A prática deste desporto é um claro incentivo para que todos ao seu redor deem largas á imaginação e elasticidade na arte de mentir. Albarda-se o burro á vontade do dono. E enquanto se servem gregos e troianos, a vida torna-se, distraidamente, uma pequena grande mentira. 
As mentiras são como o bacalhau. Podem ser servidas de mil e uma maneiras. Quentes ou frias. Podem servir para encobrir verdades, para criar boatos ou, simplesmente, para divertir. Há ainda as versões mais sofisticadas e com vários upgrades, uma espécie de versão premium das mentiras - a usurpação da privacidade alheia e as chantagens. A sordidez dos seres mal formados e mal amados, esponenciada ao limite.

Há quase dois anos atrás, escrevi isto*. Passou muito tempo. De lá para cá, a Imaculada, que era afinal a Paula, transformou-se numa querida e especial amiga. Ontem, do lado de lá da sua rua, a verdade, veio ao cimo.

O Tempo está para a Verdade, como a água para o azeite. A vida, meus caros, a vida tudo esclarece e arruma.

Não gosto de mentiras e desprezo, profundamente, a mais ténue violação de privacidade. 
Se queres saber a verdade, pergunta-a. Se não consegues viver com ela, não a procures. Não obrigues só por isso a que os outros te mintam, para não ficarem á mercê da tua injustiça e, menos ainda, vás ao seu encontro por caminhos escuros e sujos.

Uma verdade ainda que muito dura, dói uma vez. Morre-se ou vive-se.
Uma mentira é uma dor continua. Um veneno letal que fica a correr nas veias e mata, dolorosa e lentamente.

No fim da linha, no fim do dia, no fim da vida, tudo será sempre uma verdade ou um veneno.
Verdade ou consequência? Decides tu.


*hoje sei, venceu a verdade, Paula. não há, nunca haverá, antídoto para a vida real :)

22.3.12

Eternidade


Tudo nesta vida é fugazmente eterno. São os momentos e o que fazemos deles, as pessoas com quem os partilhamos e a intensidade com que os vivemos que nos faz viver para sempre. 

Ainda que tudo um dia acabe, a vida é uma forma de arte que o tempo para além de nós se encarrega de manter e preservar. Só se morre para sempre quando nunca se viveu dentro de ninguém. Esse é o grande segredo da eternidade.

21.3.12

Ciclo de Vida

















{ Ermida de Nossa Senhora de Guadalupe - Raposeira }


Uma morte é sempre inesperadamente esperada. Parte-se, uma boa parte das vezes, sem prévio aviso. Num exercício de prudência, de não ter a vida por garantida, gosto de me lembrar que todos os dias vivemos paredes meias com o reverso da medalha. Não é um sentimento mórbido. Muito antes pelo contrário. É viver na certeza de que cada dia pode ser o último que mais apelo, energia e vontade de fazer mais e melhor, me traz a vida. Sobretudo, para nunca deixar de dizer a quem amo ou me é de algum modo importante, quanto faz diferença no meu dia a dia.
Hoje de tarde, a noticia da morte de alguém que conheci há pouco mais de uma semana, mas de quem conheci uma bonita história de vida, levou-me em busca da Luz que tudo em mim renova e ilumina, traz a paz quando ela me foge e me reconcilia com os dias.
É Primavera. Depois da morte, renova-se o ciclo da vida.
Estou certa que quem partiu viverá em paz na sua eternidade. É sempre assim, quando trocamos a mágoa e os ódios mesquinhos por uma vida rica e com dignidade, a dar em prol de outros o que alguém nos roubou um dia. Foi um enorme privilégio chegar a conhecê-lo, meu caro Eduardo. Obrigada. Até sempre!

Das certezas do Amor para sempre

{19.03.2011 -  Praia da Comporta -
um ano depois, os mesmos pontos de partida, os mesmos desejos, o mesmo projeto... 
recomeço, mas nada é igual. deste ponto parto com uma certeza para a vida, muito mais rica }



Acima do Amor, só a Admiração por alguém torna uma provisória paixão num amor para sempre.
Ninguém tem dúvidas no dia em que encontra um amor para a vida.

20.3.12