30.9.14

A vida é uma série de recomeços


Confesso que quando hoje, ao longo do dia, fui cruzando aqui e ali o olhar com despedidas ao mês de Setembro, posts em jeito de resumo, ora verbal, ora fotográfico, não percebi muito bem do que se tratava. Sim, é verdade, sabia que hoje era dia 30, que o mês terminava, que a ele outro sucederia, que o seu nome é Outubro. Mas este ano, sem saber bem explicar porquê, eu, que até me regulo tanto internamente pelos ritmos e ritos da natureza, não descortinei bem dentro de mim esta passagem. É verdade que Setembro foi um mês mais absorvente e talvez mais absorvido, entre tanta coisa nova e a mudar. É também verdade que o Verão nos abandonou bem cedo, não no calendário mas no clima e, pelo menos em mim, gerou um desapego que fez de Setembro um mês neutro, no sentido sazonal da palavra. Outubro de facto chega, mas aproximou-se com passos de lã. Mal dei por ele. Sei no entanto que me devolverá na paisagem uma estação que me encanta particularmente (encantam todas, é verdade, vivo sempre este encantamento como se fosse a mais especial, a mais bonita, como se as vivesse pela primeira vez, quando chegam de novo). Se é verdade que acho que trago as quatro estações em mim e, que tendo nascido em Janeiro, sou uma mulher de Inverno, é também verdade que acho que se alguma estação me definisse, essa estação seria o Outono. Talvez pelos tons, ouro, terra e fogo. Talvez pelo despojamento que traz sempre a promessa de renovação. Talvez pela serenidade e pelo silêncio que repousa geralmente na paisagem. 
Não dei pelo fim de Setembro. Mal dava pela chegada de Outubro. Mas só eu sei, o quanto a minha alma se agita de felicidade, por saber que tomei a decisão certa de fugir da cidade para a serenidade da Serra, para abraçar todas as cores, todos os silêncios e todos os sons com que só a natureza me completa e complementa. E só quem me conhece bem, no meu mais profundo íntimo, no que de mais pleno existe na minha identidade, sabe o que sinto sem precisar que o diga por palavras, só de imaginar que dentro de três dias, vou estar tão perto de seres mágicos como o desta imagem, captada no ano passado, no mesmo lugar.

Adeus, querido Setembro! Foste um mês brando, para mim.


28.9.14

Às vezes

Às vezes havia tantas palavras e tão grandes que batiam umas contra as outras e  resvalavam para as pupilas que brilhavam. Atropelavam-se, para ser cada uma a primeira, a mais importante, a que queria resumir tudo, num só som, de uma só vez. Decididas estavam. Mas depois, depois a ditadora boca comprimia-se, a implacável razão censurava e o turbilhão das palavras rodopiava para um canto escondido da alma e ficava, em silêncio, a observar-te.
Às vezes. Às vezes tu ficavas. Nem tudo afinal precisa ser dito.

Hoje quando a serenidade amanheceu


- havia destinos cruzados no céu - 

26.9.14

Um chá e uma trovoada



Trabalhar em casa é um processo exigente. Muito exigente. Exige mais organização, mais disciplina, mais sentido de obrigação. Quando o tempo, o espaço e o método são inteiramente por nossa conta, a gestão do deve e haver é complexa e incomparavelmente mais falível. 
Basicamente, «a Olívia patroa» fiscaliza «a Olívia empregada» e esta relação tanto pode ser de uma condescendência irresponsável como de uma exigência irracional. E não há Tribunal de Trabalho que resolva o conflito. Mas há, como em tudo, o reverso da medalha. Poder fazer uma pausa, cumprir o ritual de uma infusão e ter tempo para desfrutar dela a ouvir uma trovoada que se aproxima, é sempre uma saborosa contrapartida. Há coisas que não se compram com algumas opções, mas também há outras que não têm preço, nesta vida.

Destino


- Lisboa -

20.9.14