Entras assim de rompante. Não pedes licença, não avisas antes. Andas sempre distraído. E eu gosto das tuas distrações. Esqueces-te dos outros porque te esqueces tantas vezes de ti. Entras assim de rompante e sorris. Dizes-me um Olá grande no brilho dos olhos. Ilumina-se tudo. As saudades moravam por aí, não disfarces. Entras assim de rompante, aproveitando a boleia de outra gente que entra, como se não fosse nada, como se fosse só por acaso que passasses por ali e entrasses, só para dizer Olá. Bom dia. E sorris com os olhos e um bocadinho de sorriso que se escapa da tua boca, como se fosses tímido nos sorrisos do rosto e falasses só com a alma nos olhos, de olhos postos em mim. Entras assim de rompante e os outros não percebem nada. Estão atarefados no nada das suas horas, na vaguidão das suas tarefas, nas mãos vazias de prazeres pequeninos. Os outros nunca percebem nada e até eu não percebo. Finjo que não percebo. Que sou distraída. Ás vezes sou tão distraída.
Entras assim de rompante e contigo o timbre da voz que é só tua e tão minha, a tua pele, lisa, suave, serena, iluminada pela cadência das conversas dos últimos dias, a novidade de uma nova vida, o ar diferente que se respira. Os silêncios – são tão grandes os silêncios. E os suspiros. E a pergunta sacramental que quer chegar a todo o lado e ao mesmo tempo não levar a lugar nenhum… Então?
Entras e olho-te, á distância da porta, entre os outros que entraram, mas que nem deram por mim. Entras assim de rompante. Não pedes licença, não avisas antes. Andas sempre distraído. Entras. Entraste. Não pediste licença. Vem cá. Fecha a porta. Devagarinho.
Tum Tum. Tum Tum. O coração...
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