Luísa Sobral tem 24 anos e é inconfundível, pelo estilo musical, pelo tom nasalado e a forma peculiar com abre as vogais. Não é, seguramente, consensual. Alíás, atrevo-me a dizer que de tão peculiar, é do género que se detesta ou se adora.
Chega ao fim um ano de trabalho, desde que lançou o seu primeiro e único disco. A mim, conquistou-me desde o momento zero. Pelo estilo, a estética e o talento - é autora das letras e compositora das músicas. Mas, mais uma vez, reforço, não será consensual a avaliação do seu percurso. Para mim, nasceu claramente para a música. Gosto muito, ponto final.
Hoje proporcionou um magnifico concerto no CCB. Não sendo um "animal de palco", é uma interprete de público. Explico-me: o seu estilo intimista chama-nos para a sua intimidade com a pureza, a simplicidade e a humildade de quem está entre amigos. E, bizarramente, é por tudo isto, e pela incontestável qualidade acústica da sua atuação, que curiosamente não saí de coração cheio deste concerto. Porquê? Porque merecia muito melhor público. Porque um artista, um cantor, vive do seu público, da sua energia, da sua cumplicidade, da sua comunhão, do seu incentivo, do seu envolvimento, do seu aplauso. Porque ainda que não sejamos todos iguais, nem vivamos todos as emoções da mesma forma, há um sentido que nos move em determinada direção. E ir a um concerto é uma forma de vivenciar e comungar momentos numa relação de simbiose, quando não mesmo de osmose. E se um cantor nos puxa, nos dá espaço para manifestar e participar e continuamos agarrados á cadeira e á voz, com medo de fazer alguma coisa que pareça mal ou incomode... então, alguma coisa está errada. E no caso, asseguro, o mal não estava no palco, mas num público atarracado e pouco motivador, a quem as intervenções foram, incompreensivelmente, arrancadas a ferros. Confesso: incomoda-me!
Há quem, como a Luísa, tenha nascido para a música. Há quem não tenha nascido com paciência para o público português: eu, definitivamente!
Breve nota sobre o CCB: foi a segunda vez que assisti a um espetáculo no CCB. Mesmo esquecendo o facto de eu ser a pior companhia possivel, por estar constantemente a traçar e a destraçar alternadamente as pernas - quem já se aventurou a fazer a mais curta refeição em frente a mim sabe o que digo! - o espaço entre filas é imoral e transforma o que devia ser uma nobre plateia numa ridicula lata de sardinhas. Como se não bastasse, proíbe a captação de qualquer tipo de imagem ou som. Que se proiba o uso de flash, dá, por motivos óbvios, para perceber... agora, de imagem e som?... Com tanto telemóvel ultra-avançado á mão de semear?... Mas alguém acredita no cumprimento destas regras?... E alguém sai prejudicado pela captação de um ranhoso video caseiro de um concerto? Não são estas pequenas caseirices que, mesmo mal amanhadas e espetadas logo a seguir no youtube, ajudam a promover mais e mais os próprios artistas?...E de fotografias do espetáculo?...O que é que leva o CCB a ter uma prática tão ridícula quanto tacanha quando outras salas, tão ou mais nobres do que a sua, o permitem?... Não sei sequer se me apetece perceber. Acho que é mais uma questão de deixar de fazer parte das receitas, para gente com um grau de estupidez superior ao que o bom senso permite ...
Já agora, só para que conste, as fotografias que aqui aparecem foram captadas nos primeiros minutos do concerto. A minha interpretação da advertência inicial era de que não podia ser gravada imagem, o que não incluía fotografar, mas apenas filmar... como tive a feliz ideia de comprar um bilhete á ponta, houve quem se tenha depois encarregado de me elucidar... Haja saúdinha!