30.1.14

Deitar cedo e cedo erguer














Não sei quantos anos teria, mas era muito pequenina, quando recebi este livro. Foi com ele que aprendi a decifrar a escrita dos ponteiros que ditavam o ritmo dos dias. E, quando já sabia ler, muitas vezes o li em voz alta. Era bonita a sua sonoridade e eu sempre gostei das diferentes entoações que podemos dar à vida.

As ilustrações de fazer sonhar e apelar aos sentidos não têm, curiosamente, o autor identificado. Pelo menos na minha edição. O ano também não está mencionado mas a edição portuguesa é da Majora com créditos de copy right à germânica Pestalozzi Verlag que, mesmo sem nos darmos conta, deu forma a muitos dos livros que nos passaram pela mão, enquanto crescíamos. 




29.1.14

Confesso: estou perdidamente apaixonada



Sofisticadamente simples. É a receita com a dose certa para me apaixonar. Em tudo na vida.
Os ingredientes complexos e as misturas pretenciosamente elaboradas estão absolutamente dispensados do que desejo para mim.

27.1.14

Uma mão cheia de peças e outra cheia de vontade

Há fases em que tudo encaixa, tudo é redondo, perfeito, fluído. Nós andamos, progredimos e o mundo gira. Tudo é movimento!
Há fases que são fdp, em que nada acerta, nada se ajusta, tudo tem bicos, espinhos, degraus altos,  pedras soltas, obstáculos intransponíveis. Ficamos estagnados e o mundo parece parar de girar para assistir ao circo.

É assim a vida, feita de fases. Não é novidade para nenhum de nós. Mas não é com frases bonitas, pensamentos profundos, construções filosóficas nem equações complexas que se resolve. É mantendo uma mão cheia de peças e outra cheia de vontade de dar luta que um dia tudo encaixa e as dificuldades se ultrapassam.

Por aqui, há muito tempo que se navega na segunda maré. Mas lá diz o povo, há mais marés do que marinheiros. E eu, além de acreditar na filosofia simples das coisas, sou mulher de Fé. Sobretudo em mim. Janeiro fora, cresce uma hora, diz o povo, também. Venha ela, que eu cá estou!



nota: a quem nos últimos comentários me pediu as receitas de dois bolos partilhados por aqui, o meu pedido de desculpas pelo atraso. prometo remediar a minha falta nos próximos dias. fiquem atentas :)


22.1.14

Hoje, um post ao estilo "Índios e Cowboys"*



 

Apesar de ter já 75 anos, a jovem e irrequieta miúda ruiva destas imagens não fez parte das nossas brincadeiras de criança. Pelo menos das minhas!

Madeline foi a personagem mais famosa e mais bem sucedida de Ludwig Bemelmans, escritor e ilustrador austríaco de livros infantis e um Chef gourmet internacionalmente conhecido.

O nome da sua personagem foi inspirado no nome daquela que viria a ser a sua mulher e gerou sete livros, seis deles publicados em vida e um descoberto depois de sua morte e publicado como obra póstuma. Os livros contam a história de Madeline Fogg, uma menina órfã que vive em num orfanato com outras meninas, todas sob os cuidados de uma freira, a Irmã Clavel. Outras personagens incluem Pepito, filho do embaixador espanhol, que vive na casa ao lado; Lorde Covington, dono da casa; e Genevieve, uma cadela que resgata Madeline de um afogamento no segundo livro.

A história de Madeline, pode muito bem ter sido em parte inspirada na história pessoal do seu próprio autor, que com seis anos viu o seu pai abandonar a familia com a governanta que cuidara do próprio Ludwig, na infância.

O primeiro livro de Madeline foi adaptado para uma curta-metragem de animação em 1952 e nomeado para um Óscar. 

Por cá, Madeline chegou há pouco mais de uma década, pelas mãos da marca de brinquedos Imaginarium. Como cá por casa havia uma pequenina Madalena, adotá-la foi inevitável. Apesar de tudo, a pequena, simpática e ruiva Madeline não foi companheira de grandes brincadeiras da nossa pequena Madalena. Com um guarda roupa tão apetecível quanto pouco prático de vestir e despir, foi decididamente uma compra que encantou mais a mãe do que a filha. E se dúvidas ou falta de memória tinha, foi fácil avivá-la com esta mini sessão fotográfica! É coisa para fazer qualquer miúda desistir à primeira troca de visual!

A querida Madeline, como o Paddington, o Babar e tantos outros personagens que povoam o nosso imaginário de pais, está religiosamente guardada com todos os seus acessórios. Quem sabe, se um dia houver uma neta curiosa, talvez ela a chame para brincar :)


Entretanto, munida do verdadeiro espírito investigador do querido Chefe Índio, ainda fiz mais algumas pesquisas, para partilhar convosco.

Como este filme, feito a partir das ilustrações do primeiro livro



esta página, onde podem encontrar tudo sobre ela!

Entretanto, ao revisitar esta personagem de inspiração francesa, foi impossível não me lembrar dos deliciosos, divertidos e desconcertantes trigêmeos mais charmosos de França, Les Triplés, de Nicole Lambert. Por isso, aqui fica desde já o desafio ao nosso querido Chefe Índio, que adora seguir pistas e sinais de fumo, para que nos conte mais sobre a sua história.

 *Inspirada aqui

19.1.14

Mais que perfeito



Depois do desastre e deceção com a receita do pseudo tronco de Natal, dificilmente podia ter tido melhor recompensa e surpresa com esta receita de hoje.

Bolo de nozes e sultanas douradas [em vez destas, alperces secos, na receita original], com cobertura de creme de queijo perfumado com lima. 

A fonte foi a revista Saberes e Sabores, edição comemorativa dos 20 anos. Uma receita que apesar do requinte se faz num abrir e fechar de olhos, de tão simples que é. O resultado foi mais que perfeito e eu fiquei mais do que feliz, porque até o senhor meu forno, que é um verdadeiro caso de policia, se portou como um Chef! 

Que delicia!

18.1.14

Geme o restolho






Geme o restolho, triste e solitário
a embalar a noite escura e fria
e a perder-se no olhar da ventania
que canta ao tom do velho campanário
Geme o restolho, preso de saudade
esquecido, enlouquecido, dominado
escondido entre as sombras do montado
sem forças e sem cor e sem vontade
Geme o restolho, a transpirar de chuva
nos campos que a ceifeira mutilou
dormindo em velhos sonhos que sonhou
na alma a mágoa enorme, intensa, aguda
Mas é preciso morrer e nascer de novo
semear no pó e voltar a colher
há que ser trigo, depois ser restolho
há que penar para aprender a viver
e a vida não é existir sem mais nada
a vida não é dia sim, dia não
é feita em cada entrega alucinada
prá receber daquilo que aumenta o coração
Geme o restolho, a transpirar de chuva
nos campos que a ceifeira mutilou
dormindo em velhos sonhos que sonhou
na alma a mágoa enorme, intensa, aguda
Mas é preciso morrer e nascer de novo
semear no pó e voltar a colher
há que ser trigo, depois ser restolho
há que penar para aprender a viver
e a vida não é existir sem mais nada
a vida não é dia sim, dia não
é feita em cada entrega alucinada
prá receber daquilo que aumenta o coração

MV

Há dias melhores que outros


17.1.14

Da manhã em que nevou [no Portugal dos Pequeninos]







Nem chegava a ser neve, apesar das zonas em que a altura e a espessura estavam muito próximas da sua consistência. 
Para quem, como eu, andava a pedir a S. Pedro um cheirinho de branco em Lisboa, soube bem. A borrasca de trovoada e chuva forte que se abateu sobre Lisboa desde as 2h da madrugada acabou por culminar num episódio de intenso granizo, mais ou menos localizado, e capaz de deixar algumas zonas da grande Lisboa com ares de capital habituada a tempestades do género. Mas neste caso, só no aspeto, porque a verdade é que nos mais pequenos detalhes nos afirmamos e confirmamos no caráter provinciano que temos. 

Se é verdade que não estamos habituados a dias assim, não é menos verdade que um episódio como o de hoje não provoca mais do que alguns atrasos no relógio ou demora no trânsito, mais por força da curiosidade do que por algum perigo real ou digno de registo.

Sim, é verdade, houve zonas que pareciam pequenos retalhos da Serra da Estrela, mas nem isso é novidade. Não acontece todos os anos, mas ciclicamente, quando o rei faz anos, este é um cenário com que nos deparamos e só mesmo a senil e fraca memória deste povo é que faz com que dias como o de hoje pareçam fruto de um pré aviso de fim de mundo. 

"Nunca se viu nada assim" é a frase de ouro. A pérola debitada com ar de suprema solenidade e sabedoria.  A mesma que refletiu a mesma pequenez e curta memória nas observações sobre as ondas que deram à costa há quase 15 dias. Meus senhores, 43 anos acabados de fazer tenho eu e lembro-me de pelo menos uma mão bem cheia de episódios iguais ou superiores. 

E depois o maravilhoso e admirável mundo dos senhores dos canais de televisão... a perguntas inteligentes, a conclusões pertinentes... um mundo, senhores! Todo um mundo de relíquias jornalísticas. 

Numa avenida de Carnaxide, filma-se a retroscavadora a afastar o gelo da estrada e o circo monta-se. Ele são os reformados do clube do "nunca se viu nada assim", pasmados com o cenário cataclítico; ele é a criancinha que não vai à escola porque "está um frio de rachar" e a rua - AQUELA RUA E APENAS E TÃO SÓ AQUELA RUA, SENHORES, ACREDITEM-SE NO QUE DIGO PORQUE PASSEI LÁ E VI E NÃO FOI PARA VER, FOI SÓ PORQUE ME CALHAVA EM CAMINHO!!! - estava com um altura de gelo que necessitava por precaução e necessidade de circulação ser retirada para a berma. Falamos de um trajeto de 100 metros, se tanto e de um trabalho que terá demorado 1 hora, se tanto. Não esquecendo que TODAS as ruas à volta estavam circuláveis, quase como se nada tivesse acontecido. Eu vi, ninguém me contou!

E eu, que entre o pasmo e a incredulidade sou uma mulher de fé, dou por mim a pensar que Deus Nosso Senhor sabe mesmo o que faz. Um povo assim tão triste e tão pequenino tinha de ser abeçoado com um clima e um território fora da rota das grandes desgraças. Se por episódios como estes as criancinhas faltam à escola, ou voos do aeroporto atrasam, o pessoal se benze e a proteção civil alerta para a necessidade do uso de correntes de neve, Deus Nosso Senhor nos livrai do dia em que acordarmos mergulhados num estado de calamidade.

Bem sei que o país não é Lisboa [graças a Deus, digo eu!] mas é aqui que, para dentro e para fora, quer queiramos quer não, nos afirmamos como povo. De episódios e reações como a de hoje, devíamos, mais do que ter vergonha, ter capacidade analítica e crítica sobre o que espelham de nós.

A verdade é que este era só um post sobre o prazer que me deu ouvir o ranger do gelo debaixo das botas e do gozo que me deu rever um bocadinho de paisagem branca, mas esta malta dá-me cabo da poesia, deita por terra a minha esperança de que algum dia saiamos do estado de letargia em que estamos afundados e quase me mata os prazeres bucólicos.

15.1.14

Eu e as campânulas...





No final do ano passado, numa das caminhadas por uma serra próxima, dei com uma densa sebe de azinheiras carregadas de bolotas. Imbuída do encanto da descoberta, apeteceu-me trazer alguns daqueles ramos frondosos para casa, tarefa que não foi facilitada nem pela robustez dos ramos nem pelos espinhos de uma hera de bagas vermelhas que se entrelaçava vigorosamente à sua volta. Depois de alguma luta e algumas picadas, acabei por trazer alguns ramos das duas. 

O ramo que na altura atei com um laço acabou de ganhar uma nova casa. 
Sou uma apaixonada por campânulas e encontrei uma tão pequenina e tão bonita que não fui capaz de lhe resistir, embora à partida não tivesse nenhum destino especial para lhe dar. Mas a verdade é que as acho perfeitas para decorar com o que a Natureza nos oferece nas quatro estações e são um apelo à imaginação e à criatividade. 

Esta tem uma base e uma etiqueta em lousa e acabou por ser de forma automática destinada a preservar o que restava do ramo feito em Dezembro. E as pinhas não podiam faltar, pois claro!