9.2.18

Viena em três dias


Foi o mais inesperado e querido presente de aniversário dos últimos anos. Em duas horas, escolhemos o voo, o hotel e a data. A ideia era proporcionar-me um passeio até um destino frio, onde fosse previsível haver neve ou nevar, que eu ainda não conhecesse e gostasse de visitar. Para alguém que, como ele, só gosta de calor e mar, foi uma espécie de demostração de amor à prova de bala. Foi assim que em Janeiro rumámos a Viena de Áustria num fim de semana prolongado.

Nem toda a gente viaja ou gosta de viajar pelos mesmos motivos. Ainda assim, para um considerável numero de pessoas, creio que uma boa parte do gosto de viajar reside no interesse em observar, descobrir e desfrutar das diferenças que cada destino proporciona. Resumidamente, do prazer de beber da cultura de cada povo e de comungar, por uns dias da sua forma de estar. Por muito que se leia e veja, nada como o conhecimento empírico para podermos retirar as nossas conclusões. 

E, nesse aspecto, confesso que Viena foi das cidades que até hoje mais me surpreendeu, pela ideia pré-concebida que levava comigo. Clichés criados na minha cabeça, de certa forma como subproduto de filmes que vi.

Como sempre, a forma como adjetivamos as conclusões que resultam das nossas avaliações é altamente subjetiva. Valem o que valem. Ou seja, muito pouco. Mas são as mais importantes, porque são as nossas. É por isso que partilho hoje aqui o que senti nesta visita.



Uma das características mais apontadas na cultura Vienense é a do culto dos cafés. Confirma-se. A cidade está povoada por eles a cada esquina. Quase todos imponentes, históricos, magistralmente decorados e cheios de gente, com os Vienenses à cabeça da lista. É fácil compreender porquê. Numa cidade que já foi o centro de um império e que durante séculos foi palco dos mais diversos intelectuais e artistas, os cafés eram um marco importantíssimo na vida social. A vantagem e o mérito foi que tudo isso se conservou até hoje. Um chocolate quente e um apfelstrudel com molho de baunilha são absolutamente obrigatórios, a não ser que não se goste ou se esteja em rigorosa dieta!

Outro lugar que parece incontornável é a Ópera de Viena. Compreende-se porquê, depois de visitar o edifício por dentro. E mesmo que não se assistisse a uma ópera, já valeria a pena, mas o facto é que só é possível fazê-lo com bilhetes para assistir.

Curioso foi ficar a saber que, na época da sua construção - encomendada pelo Imperador Francisco José - este edifício que hoje consideramos uma obra de arte foi fortemente criticado. De tal forma que um dos arquitetos se suicidou depois da inauguração. Tantas considerações acerca das pessoas e do ego haveria a fazer, a este propósito... Que estranho é pensar que, com tanto que a história tem para nos ensinar, continuamos a cometer os mesmos erros. 


Viena é acima de tudo uma cidade onde a força de um poderoso e riquíssimo império se exibe com pompa e circunstância ate hoje. Os inúmeros palácios e edifícios imperiais, escrupulosamente mantidos e cuidados, fazem-nos facilmente sentir numa viagem no tempo. Quando a isso se junta a sorte de ser brindado com um suave mas abundante nevão, tudo se torna mágico. Pelo menos para mim, uma incorrigível romântica que ainda hoje sabe de cor praticamente toda a banda sonora de Música no Coração. Mas foi exatamente por essa fortíssima referência da minha infância que fui surpreendida por algumas constatações. Imaginava eu que os austríacos eram todos altos e espadaúdos, lindos e loiros. Ora, pois, nada mais longe da verdade! Para ser sincera, achei-os absolutamente sem graça e sem identidade. Cinzentões, apagados, atarracados, até, para aquilo que estamos habituados nos países que habitam o topo do mapa da Europa. Em comparação com os holandeses que povoam Amesterdão, cheios de raça, pinta e bom gosto, a anos-luz!

Outra coisa que me surpreendeu de sobremaneira foi o comércio. De uma pobreza franciscana a toda à prova. Entre as marcas que já existem por toda a parte e que tornam as ruas de todas as capitais europeias num triste cenário de mais do mesmo, passando pelas lojas de souvenires com o pior, mais piroso e plástico made in china (damos 20 a 0 neste campo, no nosso burgo! ) e acabando nas lojas/marcas locais sem graça ou apelo estético possível, confesso que esta viagem foi um verdadeiro descanso. Uma poupança sem espinhas! Uns chocolatinhos para a família e, e!... 

Talvez levasse acomodadas, na bagagem da minha memória,  demasiadas referências do Tirol. Suspensórios e chapéus com penas e fitas de gorgorão com edelweiss; coletes e calças bordadas... mais cor, mais música, mais cantoria... Mas a verdade é que o facto de não conseguir encontrar um único vestígio disso em parte nenhuma foi não só surpreendente como de certa forma triste. Nada que por si tenha suplantado a felicidade de poder desfrutar de tudo o que desfrutámos numa cidade linda e evoluída como Viena. 

Sinto-me uma privilegiada e muito grata por este presente fantástico que recebi. Obrigada, meu querido Vasco, por isso.


Um último comentário. Apesar de ter levado a máquina fotográfica comigo, desta vez optei por me restringir ao telemóvel para registar os momentos, os lugares e as memórias que gosto de guardar para revisitar sempre que apetece recordar dias felizes. O que mais me impressionou, depois de rever e editar apenas em aplicações do telemóvel as imagens, foi a qualidade já se consegue ter a este nível. Claro que a definição não é a mesma de uma máquina, mas a nitidez que já é possível obter, mesmo quando se ampliam à escala que ampliei aqui, é a prova de que muito provavelmente, num futuro próximo, as máquinas vão ter muito pouca serventia...