Sempre gostei de ler e sempre li com regularidade, desde miúda. Na meninice, os livros da aventureira Patrícia faziam as minhas delicias. Mais tarde, de Eça de Queirós li praticamente toda a bibliografia e ao longo de muitos anos foram os livros de ciências sociais e humanas, ligados em particular à psicologia, pediatria e sociologia que me fizeram companhia, em férias, e ao longo do resto do ano.
Este último ano foi, seguramente, o ano em que mais distante andei dos livros. Sinto, como nunca senti, um esforço de concentração acima da média e é fácil dar por mim a consumir letra e linhas sem ter apreendido o sentido do que lia ou retido qualquer informação... Será da idade, será uma fase? Não sei. Saberei daqui a uns tempos, caso o padrão se mantenha ou altere e retome o meu conhecido ritmo.
Como é habitual em mim, animal de rotinas e de padrões comportamentais mantidos ao longo de muito tempo, na véspera da partida para férias, senti necessidade de ir ao encontro de uma leitura que me ancorasse ao velho hábito. Em mente, um livro que tinha curiosidade de ler há algum tempo. Rumei à Fnac mais perto, para o comprar. Já de livro na mão, na fila para pagar, percebi claramente que ia ser um dinheiro gasto em vão. Voltei para trás, devolvi-o à companhia dos irmãos na prateleira e regressei a casa para me dedicar ao puzzle das malas.
Em si mesmo, o tema livro e leituras tem pouco interesse que lhe esprema. No fundo, no fundo, o que aqui me faz deter por mais tempo é observar as diferenças de comportamento, é observar-me de dentro para fora, é compreender mais profundamente os ciclos de vida, quais são as alterações do momento e quais são as mais profundas, quando se enraízam, e se tornam estruturais, criando uma nova forma de "eu".
Ainda assim, dando largas à teimosia de manter o registo que me é mais familiar, na única paragem de viagem, na estação de serviço onde se esticam as pernas e se repõe o nível de cafeína, senti-me compelida a comprar uma revista, mesmo tendo em conta que tinha um único artigo que me interessava.
Adivinham a moral desta história?
Pois é, não passei do primeiro parágrafo... porque, afinal de contas, ia ter uma série de dias para dar conta do recado!
Enquanto escrevo estas linhas, ela repousa, de olhar sarcástico, na mesa de apoio ao sofá. Fito-a em desafio e juro a mim mesma que vou ser eu a ganhar esta parada. O tempo o dirá! Por agora, é dia de voltar ao trabalho, é hora de retomar o que gostava de ter conseguido deixar feito antes de férias, para ter direito a descanso todo o Agosto. Mas à conta do cansaço acumulado e da amiga falta de concentração, no fim de Julho, já a cigarra ganhava pontos à formiga... Entreguei-me ao ócio. É agora tempo de pagar a fatura.
Bom regresso, a quem está no mesmo barco!
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ResponderEliminarRevi me completamente na sua crónica. Continuo a passear os meus livros como se , fisicamente, ainda fizessem parte de mim....das minhas pausas e férias. ..mas essa ligação emocional não passa disso. Levei " Uma viagem à Índia " para o Algarve e passeei o por todo o lado, mas nem o abri , tal como uma relação esfriada pela monotonia dos dias. Pensei que fosse uma fase ou a idade e as suas mudanças, mas não sei...
ResponderEliminarÉ o querer abarcar tudo e em nada demorar. ...falta a concentração, falta a calma, falta o focar me!!!!!
Chamo lhe inquietude.
Deve passar e melhores dias de calmaria virão. Ou não.
Beijo