28.1.10

Por dentro, sempre tão perto de mim


Percorrendo hoje de manhã as ruas daquela que sempre conheci como a tua cidade, era inevitável sentir-te em cada canto. Todos aqueles lugares foram tantas vezes percorridos pelas duas, juntas, desde o tempo em que te acompanhava nas rotinas diárias, me davas a mão e me levavas à praça, ralhavas com a peixeira por causa da pescada da véspera que afinal não era fresca, davas dois dedos de conversa na padaria e mandavas pesar a hortaliça na mercearia. Depois, mais tarde, nos dias em que íamos às compras, lanchávamos e tu comias o teu duchesse para logo em seguida -sempre- dizeres que tinhas ficado enjoada.

Não é raro encontrar-te no olhar -muito raro é encontrar-te na profundidade do belo verde dos teus olhos - de uma ou outra velhota que passa, num sorriso ou num passo apressado, como era sempre o teu. Sim, hoje estarias mais velhota, mais enrugada, mais franzina, mas estarias aqui se não te tivesses zangado com a vida e decidido partir por desistir dela e de ti.

Hoje percorri-te, como em tantos outros dias, em saudade. Não porque não saiba que estás bem, mas simplesmente porque não consegui abraçar-te.

Saudades tuas, avó.






3 comentários:

  1. Tocaste-me, lindo, triste... mas lindo! As lembranças trazem-nos sempre (nem que seja por instantes)as pessoas de volta!
    Por isso é que quero ir o mais rapidamente à Madeira, ver a minha avó com quem tenho laços tão fortes... aproveitar enquanto ainda está entre nós!
    Beijinhos miguita
    Rita

    ResponderEliminar
  2. Vai, sim.
    Quando partimos ficamos sempre perto dos que nos amam e amámos, mas já não nos tocamos.
    Beijinho grande e bom fim de semana.

    ResponderEliminar

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.