31.7.14

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| A possibilidade de Reencontrar a Vida

Este vai e vem que julho e agosto introduzem (com viagens mais próximas ou longas, tráfegos de vária ordem, alterações ao quadro da vida corrente...) constitui, para lá de tudo o mais, uma espécie de coreografia interior. Dir-se-ia que a própria vida solicita que a escutemos de outra forma. De facto é disso que se trata, mesmo que não se diga. É com esse imperativo que cada um de nós, mais explícita ou implicitamente, luta: a necessidade irresitível de reencontrar a vida na sua forma pura.

Se a linha azul do mar tantos nos seduz é também porque essa imensidão nos lembra o nosso verdadeiro horizonte. Se subimos aos altos montes é porque na visão clara que aí se alcança do real, nessa visão resplandecente e sem censuras, reconhecemos parte importante de um apelo mais íntimo. Se buscamos outras cidades (e nessas cidades uma catedral, um museu, um testemunho de beleza, um não sei quê...) é também perseguindo uma geografia interior. Se simplesmente investimos numa dilatada experiência do tempo (refeições demoradas, conversas que se alongam, visitas e encontros) é porque a gratuitidade, e só ela, nos dá o sabor adiado da própria existência.

Entendemos bem aquele verso de Rilke que diz: "Espero pelo verão como quem espera por outra vida". Na verdade, não é por uma vida estranha e fantasiosa que esperamos, mas por uma vida que realmente nos pertença. Por isso é tão decisivo que as férias, tempo aberto às múltiplas errâncias, não se torne um período errático e vago; tempo plástico e criativo, e não se enrede nas derivas consumistas; tempo propício à humanização, e não se perca na fuga de si mesmo e no ruído do mundo. Em toda a tradição bíblica, o repouso é uma oportunidade privilegiada para mergulhar mais fundo, mais dentro, mais alto. é aceitar o risco de sentir a vida integralmente e de maravilhar-se com ela: na escassez e na plenitude, na imprevisibilidade dolorosa e na sabedoria confiante.


-José Tolentino Mendonça-

* o outro lado da partilha da vida

Azul



A cor dos nossos dias felizes. Nos próximos muitos dias. Online apenas com o pulsar da Vida. A Sul.

29.7.14

O Elogio dos Sentidos | O cheiro

Da roupa lavada acabada de estender
Da casa depois de um banho
Das primeiras chuvas sobre terra seca
De um perfume novo a estrear a pele
De um ramo de coentros cortado generosamente
De uns morangos verdadeiros
De um filho bebé
De pinheiro
De esteva
De pão quente
De lenha a arder
De um manjerico de Santo António na palma da mão
De uma figueira sob o sol quente
Do champô guardado num cabelo solto ao fim do dia
De uma cama feita de novo
De um chocolate quente
De canela
De baunilha
De coco
De uma manhã de Primavera
De uma tarde de Outono
De uma noite de Inverno
Do Verão da vida

27.7.14

Sabor a férias no Caramulo. Reeditado.


Há uns anos, durante muitos e muitos anos, havia uma casa de granito que a frondosa e robusta hera abraçava. A hera era a casa de muitos pássaros que nela escondiam o lar a que chamamos ninho. A casa era uma casa com história que construiu parte da história da minha vida. De manhã, a casa cheirava a cera acabada de passar na tijoleira vermelha e lustrosa que cobria o piso de cima. Do lado de fora, quando abríamos a porta, o dia cheirava a bucho, a cedro, a hortelã silvestre e a relva molhada. Ao pequeno almoço havia pequenas vieiras em porcelana da Vista Alegre recheadas com mel e doces caseiros. Depois do pequeno almoço, descíamos o caminho traçado pelas lajes de lousa, emoldurado pelo verde do cuidado jardim e protegido pela sombra das imponentes árvores. Lá em baixo, havia uma pedra grande que em sonora alegria renovava a fria água da piscina onde mergulhávamos. E havia um pequeno riacho, a que descíamos, usando da habilidade que a experiência nos fora dando para fugir às urtigas, e onde apanhávamos pequenas rãs. Durante a tarde, para fazer a digestão, íamos muitas vezes apanhar amoras. Mais tarde, ao fim do dia, quando o corpo cansado dos mergulhos repousava, íamos dar um passeio até ao tanque da casa que tinha o milharal. De lá, trazíamos oferecidas as maçarocas de milho verde que eram escolhidas a dedo, depois de muitos dedos de prosa que ecoavam na estrada deserta, por entre o coro do fio de água indiferente à nossa presença e o porco que grunhia, lá mais adiante.

Ao jantar, da cozinha vinha truta grelhada, carne com um sabor diferente do da cidade, generosas tigelas cheias de papos de anjo, as amoras lavadas, libertas do pó do Verão, e as maçarocas, assadas, que comíamos à mão.


Hoje, com manteiga aromatizada com gengibre, raspa de limão e funcho fresco. E no final um sorriso enorme, misto de saudade e prazer.

23.7.14

| Onde é a nossa casa?*



«Acho que foi Albert Camus que disse que a questão mais premente do nosso tempo é cada homem descobrir onde é a sua casa. Aparentemente é uma ideia estranha, pois a maior parte de nós não tem de se perguntar para onde deve voltar ao crepúsculo. Dia a dia há uma rota que voltamos a trilhar sem especiais hesitações, entre a fadiga e a esperança, cruzando as paredes do tempo: esse é o caminho para nossa casa. Cada um cumpre, mesmo sem especial reflexão, trajetórias e rituais que são seus: a estrada que escolhe para regressar (sempre igual, sempre a mudar...); a forma familiar que tem diariamente de rodar a chave; o modo (mais lento, mais repentino) de abrir para o que ali habita; aquela fração de segundo, absolutamente impressiva, antes da primeira palavra, em que a casa inteira parece que vem ao nosso encontro, ofegante ou em puro repouso.

Que quereria dizer Camus, quando escreveu: "Cada homem tem de descobrir a sua casa"? Muitas vezes, perante as questões fundamentais e o embaraço de não encontrarmos imediatamente para elas respostas conclusivas, a própria atualidade vem em nosso socorro, mostrando como a vida é sempre mais simples que as deferências e os reenvios com que a abordamos. Por vezes, basta ver, apenas. Basta-nos tomar um exemplo, tocar uma única entre os milhões de imagens que processam o presente, acolher a breve chama de uma história para que o longo corredor até ao sentido se ilumine.

Que quereria dizer Camus, quando escreveu: "Cada homem tem de descobrir a sua casa"? Penso que a frase longa esconde um repto mais essencial: cada pessoa não tem apenas a tarefa de descobrir uma habitação. Cada pessoa tem o irrecusável dever de descobrir-se, vivendo com paixão e sabedoria a construção de si, esse processo que, por definição, está em aberto e que ao longo da existência se vai efetivando. Nós somos a nossa casa. E poder dizer isso, com simplicidade e verdade, equivale perpetuar aquilo que Albert Camus também escreveu: "No meio de um inverno, finalmente aprendi que havia dentro de mim um verão invencível"

in O Hipopótamo de Deus
José Tolentino Mendonça

* a resposta em imagens que valem por mil palavras
Para sempre na minha Sagres.
@Carrapateira | Set'12


22.7.14

| Resumo


O ADN da saudade

Mal se tinham inaugurado as nove da manhã e já o sol oferecia vinte e um graus. No carro a companhia mais recente, naquele modo repetitivo que sempre me acontece quando compro um CD novo. A música preferida toma conta do espaço. Subo o volume. Acompanho a letra que tanto gosto de cantar. Será sempre impossivel ignorar o peso da música e da dança na minha vida. Vieram comigo, não sei muito bem alojadas onde, mas entranhadas na alma, seguramente. Fazem parte do meu ADN. É tão diferente a vibração do corpo, quando cantamos. Nem vou falar do que sinto, quando danço! Mas cantar tem o mesmo efeito de uma relaxante massagem, mas neste caso, a massagem é no espírito. Não será por acaso que diz o povo que, quem canta, os seus males espanta. E de repente, embalada neste ritmo, sinto-te tão perto, avó. Se há imagem impressiva que guardo de ti é a das tuas cantorias. Curiosamente, sendo a costura o teu oficio, foi sempre a cozinhar que te ouvi cantar mais. Suponho que na costura a concentração, o brio e o preceito em que eras exímia, te aperreassem mais a alma. Mas no meio dos tachos, com a mão na massa, eras tão livre. E tão feliz! No meio do Zambujo, juntas-te a mim e vejo-te sobre a bancada de mármore da mesa no centro da cozinha, erguendo a pirâmide de farinha, abrindo a cratera no seu centro, nela depositando as lascas de margarida, as pedras de sal grosso que brilhavam, o ovo que desmaiava como lava, lava que continhas entre os teus dedos, envolvendo tudo, na massa que depois tendias. E dali nascia um tesouro que embrulhava carne picada com chouriço, generosamente aromatizada de salsa... os melhores pasteis de massa tenra do mundo! Hoje estiveste comigo, cantámos juntas, bem sei. E se alguma dúvida houvesse do que de ti guardo nos meus genes, ao olhar o espelho da pala que me protegia da luz que me trazia as lágrimas aos olhos, as sardas atiçadas pelo sol que encontrei e o brilho dos teus olhos - o brilho, não a cor do teu límpido e inigualável verde! - ali refletidos, foi a ti que espelharam, não a mim.


21.7.14

No tempo das groselhas






- podemos saborear a vida de muitas maneiras -

Manhã (na) desportiva



Durante quase quatro anos frequentei diariamente um ginásio. Há mais de quatro anos que deixei de o frequentar. Quando racionalizar despesas se impõe, é fácil perceber o supérfluo de que algumas se revestem. Num país abençoado por um clima como o nosso e uma cidade plantada à beira de um rio, há despesas que são quase absurdas. Apesar de tudo, não posso negar a falta que por vezes sinto de algumas aulas. O Step, o Jump, o RPM, o Balance... e o Jam... ai o meu querido Jam! Mas sobrevive-se!

Sempre que posso, que a vida profissional o permite ou sempre que o corpo já grita por isso, saio para correr de manhã. Quer queiramos, quer não, é um luxo na vida poder começar o dia, a semana, com exercício e ar livre. E depois há todo um laboratório social, por este percurso fora. A forma como caminhamos, como corremos, pode contar tanto sobre nós, sem que troquemos uma palavra que seja.

Há os que correm como Prima-Donas [ Os - artigo definido masculino plural - aqui de origem duvidosa], melhor dito, que esvoaçam, numa perfeita evocação de "Chariots of fire", em câmera lenta, com banda sonora e tudo.
Há os que correm a treinar para a maratona.

Há os que correm para esquecer que estão desempregados.
Há os que correm para esquecer que estão empregados.

Há os que correm porque correr parece ser, atualmente, uma alienada palavra de ordem.
Há os que correm porque sempre correram.
Há os que correm porque descobriram que gostam.

Há os que correm contrariados. Como eu.
Dai-me Senhor kms para fazer, mas a caminhar! Ainda em Abril, em cinco dias, fiz Paris de lés a lés, sempre a pé, com equivalência a uma peregrinação de Lisboa a Fátima, sem me queixar. 
Dai-me Senhor estrada para fazer, sempre a pedalar!
Mas correr, Senhor, senhores... Correr é decididamente coisa que dispenso. Mais c'est pas la noblesse qu'oblige. C'est l'âge! Essa é que é essa!

20.7.14

Crónica sobre (duas) rodas





A desgraçada vive entalada, devotada ao quase abandono, durante mais tempo do que a minha vontade de sair com ela devia permitir. Não sei mesmo como nos dias de desvairado calor o ferro não se fundiu já e as rodas não derreteram qual Mozzarella em cima de pizza no forno. Quando finalmente lhe pego, reclama. Acusa artroses nas rodas quase empenadas, dilatação das borrachas, inchaço e retenção de líquidos nos travões... É branca. Batizeia-a de Imaculada quando há quatro anos nasceu para mim. Suponho que por ter nome de gente se presumiu do direito de ter hormonas. É um direito que quase lhe assiste.
Ultimamente, faz-me a vida negra quando lhe instalo a roda da frente - desmontar é requisito indispensável para caber dentro do carro. Enche-se de manhas, troca-me as voltas e eu, muno-me da melhor paciência que me habita e dou-lhe desconto. De verdade, sei que lá tem as suas razões para tanto mau feitio.
Esta coisa de fazer longos kms sozinha tem o seu quê de desafio à sorte. Bem, o sozinha leia-se stricto sensu. O percurso é acompanhado pelas famílias, pelos grupos, pelos solitários e pelos pescadores. Não, não me refiro aos que usam linha. Estes são mais da linhagem dos piscadores e dos assobiadores e têm no ecossistema social a mesma nobre função que as moscas no da natureza. Incomodam. Mas regressando ao que interessa. Penso sempre qual será o dia em que quando estiver longe um pneu se esvazia, a corrente se parte e a volta se vai fazer a pé. Eu sei. Eu sei que os pro's andam todos artilhados com bombas, chaves, capacetes, e outros úteis etc´s. Mas eu não sou pro. Eu sou só uma grande e antiga apaixonada destas duas rodas sem barulho de motor!
Mas hoje, hoje a festa estava armada e acho que nem mesmo a minha paciência seria suficiente para a convencer. Estava eu ajoelhada junto dela, como se faz quando descemos à altura das crianças birrentas, quando a espontânea gentileza de um cavalheiro - dos todos artilhados, pois claro! - me safou. Não fosse o seu olho clínico e as suas mãos de profissional, e tinha ido cumprimentar o Vasco da Gama e voltado para casa com um feitio pior do que o dela. Abençoado Sr. Qualquer Coisa! Simpático, solícito, boa onda, de quem não sei o nome nem ele o meu, que me salvou o dia e me instalou um sorriso de orelha a orelha. Despediu-se com um franco e enérgico "boa viagem!". Querem coisa mais linda?
Muitas horas e cerca de 26 kms depois, abstraindo-me do magnifico recorte de bronze à padeiro - coisa que no estado de quase lula em que me encontro, graças ao soberbo contributo do Verão deste ano, é ainda mais bonito de se ver- só me resta agradecer mentalmente a senhor do valente bigode à portuguesa! Eu sei que é cliché, mas assim como a bicicleta se chama Imaculada, ele também precisa de um nome. Manuel. Manuel para mim e Manel para a familia e amigos, se me está a ler, um granda bem-haja para si, sim!?


Em jeito de nota de rodapé, duas observações e uma consideração final.

Senhores agentes do trânsito, querendo abichar uns trocos para as férias, é montarem uma banca a meio da Doca de Santo, como fazem atrás das moitas, nas autoestradas onde 140km/h não incomodam ninguém. O pessoal parece não conhecer o sinal de trânsito que em boa hora foi plantado nos extremos da zona de restauração e há descarada infração. Mesmo, mesmo à fartazana. É negócio garantido, vão por mim.

Senhores ciclistas, nas passadeiras não têm prioridade a não ser que circulem com a bicicleta pela mão. Se os condutores não param, não resmunguem e menos ainda insultem... a maioria pára, porque é simpática, ou porque faz o mesmo que vocês, mas não tem rigorosamente obrigação nenhuma. Querem passar na passadeira sem se apear? Sim senhor, eu faço o mesmo. Mas espero e caladinha, como manda a lei.

Sabem, isto de proliferar pela cidade com estilo de vida saudável, como cogumelos nos bosques de outono, não confere estatuto privilegiado. Pelo contrário, exige um assumido e escrupuloso sentido cívico e de respeito pelas regras que protegem os outros e não apenas o nosso umbigo pseudo-ecológico. Há muitas formas de poluir o ambiente. Pensem nisso!



19.7.14

O Hipopótamo de Deus

José Tolentino Mendonça, escritor, poeta, sacerdote e professor, não é um homem fácil de se ler.

A sua escrita é exigente, o seu pensamento é desafiante, o seu estilo é interpelador. Cansa-nos saudavelmente a mente, acompanhar as suas cogitações e a sua linguagem tão improvável quanto por vezes erudita, para os nossos padrões.

Tolentino Mendonça tem a capacidade de nos dar respostas que nos conduzem a novas perguntas. Todas elas, demolidoramente interiores e indecifráveis, de tão pessoais que são.

Tolentino Mendonça não proporciona uma leitura repousante e não nos descansa. Talvez por isso mesmo, num mundo onde há ainda - e talvez cada vez mais! - tanto por compreender, valha a pena ler.

Nota pessoal: apesar da sua formação e profissão, não se trata de um livro de cunho estritamente católico, ainda que mantenha ao longo de todas as narrativas um inquestionável sentido religioso, não tanto da religião, mas da vida. Aos mais céticos e menos pacientes, aconselha-se uma leitura menos demorada dos primeiros capítulos. Rever-se-ão, mais à frente.
A todos os que se distanciem de um entendimento minimamente poético da vida, desaconselha-se, vivamente.



Amar o que se tem à mão










O Sol de Lisboa e o que nesta cidade me aproxima do campo. 
O melhor do que tenho à mão mora dentro de minha casa, até o futuro se instalar no presente que sonhei para ele.

18.7.14

Na vida


Há dias perfumados de Manjerona, refrescados por Manjericão-Canela e com sabor a Pimento Roxo.
Na vida, é preciso tão pouco para ter tanto.
.

17.7.14

Memória reeditada | 1

| Geografia da alma

Uma vez por ano o chão era pó de terra fina e caruma de pinheiro manso encardindo os pés. E os dias eram das videiras, dos tanques com água de cor duvidosa e limo nos cantos, das ruas de paralelo, das galinhas, dos burros, das carroças com rodas de madeira, dos coelhos. As horas eram sol, sombra, lua, estrelas. A palha enchia colchões e a espuma era muita dentro das almofadas e às vezes fazia doer os sonhos. Havia crianças, muitas crianças. E rua, muita rua. E havia um sapateiro numa esquina e o ar cheirava a cola entranhada nos dedos escurecidos. E logo a febras na brasa e a sardinhas comidas com figos. Havia pelo menos um baloiço numa árvore. Pinhões e avelãs à sobremesa. E pêssegos carecas. Janelas de guilhotina, dobradiças e soalhos que rangiam e a minha bisavó sempre na soleira da porta. As sombras do candeeiro a petróleo. Uma vez por ano era assim. Sei que uma vez por ano não basta. Agora que o meu chão é também areia e feno tingido de sol, e pedras polidas e sal. Uma vez por ano não basta. Não vai bastar nunca mais. Há uma menina do campo com um coração ancorado a Sul.

10.7.14

Os dias que murmuram


Começam brandos e mornos, no ritmo e na temperatura. Caminham mansos, entre passos incertos de certezas. Mergulham nas ondas. Correm demorados entre os grãos de areia a passar por entre os dedos. Saboreiam gelados. E fruta. E pele com sabor a sal. Contemplam. Passeiam-se. Em memórias do presente e saudades do futuro. Regressam sem pressas, pelos trilhos de sempre. Entram pelas frestas das janelas de luz coada pelos estores. Sussurram segredos da intimidade das paredes adormecidas à rua que passa enamorada lá fora. Deixam entrar o canto dos pássaros e mais tarde o canto dos grilos. A luz da lua. Conjugam o sabor prosaico de rodelas de pepino e uma lata de atum. Um chá frio. São feitos de palavras que são feitas de silêncios. Os dias intensamente felizes não são os que falam mas os que murmuram. Baixinho.