1.3.12

Eu construo a minha casa*



Em mais uma incursão pelo Substância da Vida, eu, que tanto gosto de ler o mundo e de me ler a mim mesma ao lê-lo, encontrei a explicação para algo que faço há muitos anos e que sempre me conferiu um estranho conforto, cujo significado desconhecia. Falo de um hábito muito antigo de, ao percorrer á noite as ruas de carro - a pé, estranhamente, não o faço - e observar o interior das casas, as silhuetas que se movem por detrás de cada cortina, como se uma parte de mim se encontrasse nas imagens devolvidas. Sabia que a minha atitude nada podia ter de voyeurismo. Dou demasiada importância á privacidade para que pudesse ser o sentimento subjacente. 
Sei bem o impacto e toda a diferença que teve na minha construção como mulher uma infância emoldurada por paredes que protegiam e amparavam. A importância das luzes que aqueciam e á noite se apagavam com um sopro de quem finge apagar uma vela - uma brincadeira que a minha mãe fazia comigo e até hoje repito com a M., que ainda adora fazê-lo. A consistência de uma estrutura feita de cimento firme e não de areia ou frágil barro. Uma família e tudo o que traz a vivência do seu genuíno sentido. 
Ao ler a reflexão da Laurinda, percebi que existe nesta minha atitude o desejo incontido de acreditar que dentro de todas as quatro paredes que emolduram vidas, se projeta vida, se pode nascer feliz e crescer protegido. Que uma casa é e será sempre, acompanhados ou sozinhos, o lugar onde o nosso coração mora. E onde adormece, tranquilo.


*título de um livro da coleção da Anita, que marcou a minha infância

3 comentários:

  1. Sempre fiz isso, sempre de carro e sempre a pensar nas vidas e na felicidade que esperava que existisse dentro daquelas 4 paredes, naquelas vidas desconhecidas. Curiosamente nunca pensei em vidas tristes, amarguradas... sempre pensei em gente feliz.

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  2. Giro! Vês? Mais uma coisa em que somos parecidas :)

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  3. Anónimo7.3.12

    Faço igual! Adoro olhar para dentro das casas, ver as luzes baixas e amarelas que denunciam uma casa acolhedora... quadros nas paredes e imaginar como se vive ali! E sim, são sempre histórias felizes!
    AD

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