30.11.11

O meu Pai



O meu Pai foi pai aos doze anos. Aos doze anos foi Pai de quatro irmãos quando aos doze anos, filho mais velho que era, o seu pai morreu. Há sessenta anos atrás, para uma boa parte das crianças deste país, ser criança não era um direito e menos ainda uma opção. Ser criança e viver como uma criança era um privilégio acessivel a poucos. O meu Pai mal foi criança e nunca terá chegado a ser adolescente. Cresceu ao ritmo que a vida lhe impôs, com as responsabilidades que a vida lhe entregou. Diretamente promovido ao papel de adulto, ajudou a criar os irmãos, criou-se enquanto cresceu e quando pôde voltou á escola. Á noite e já adulto, porque desde os doze anos que trabalhar foi tudo o que o meu pai fez.
Aos trinta anos o meu Pai foi novamente pai. O Pai que a vida me ofereceu e que me proporcinou rigorosamente tudo o que não teve, sem nunca se esquecer de me proporcionar o mais importante: um sentido de responsabilidade para a vida, coragem para lutar por aquilo que desejo, não me tentar com o caminho mais curto ou mais fácil e resistência para não desistir daquilo em que acredito.
Se numa imagem me pedissem para desenhar o meu pai desenharia um pilar. Forte. Alto. Consistente. Resistente. Estruturante.
Quando era pequenina, o meu Pai, a quem a infância não deu colo nem mimos, brincava comigo aos Domingos e ensinou-me uma dança, garantindo que os meus passos acompanhavam os seus. De uma forma simbólica, foi também com o meu Pai que aprendi a dançar a dança da Vida. Uma dança que muda muitas vezes de ritmo, que ora nos acelera o passo, ora o atrasa, num compasso de espera tantas vezes sem melodia.
Aos setenta anos o meu Pai ainda trabalha, porque trabalhar é o centro da sua vida. Mas ao fim de uma vida de trabalho o meu Pai olha para a vida com apreensão. Não para a sua, mas para a minha e para a da neta. Apesar de tudo e das suas poucas palavras, o meu Pai sabe que sempre segui os passos que me ensinou. São eles que em alguns descompassos da vida me têm acompanhado. São esses passos certos que, no meio da incerteza, me dão todas as certezas de que, aconteça o que acontecer, saberei sempre acertar o passo com o ritmo que a Vida me impuser.
O meu Pai brincou comigo mas nunca me contou histórias. Pelo exemplo ensinou-me a dança da Vida. O mesmo exemplo que dou á minha filha. Resistência e valores. Dancemos, pois, que o resto vem depois.

9 comentários:

  1. m. estou lavada em lágrimas (também eu tenho um pai alicerce)
    essa tua força e beleza interior tinha que vir de algum lado...
    um beijo enorme

    ResponderEliminar
  2. ufff que texto tão poderoso, estou comovida. Ainda bem que tiveste esse alicerce na tua vida, que te ensinou a não desistir e a dançar conforme a música que a vida te vai dando. A ti, e ao teu pai, um beijo especial.

    ResponderEliminar
  3. Tão terno este post :)

    Perdi o meu aos 14 anos e até me emocionei ao ler-te ...

    ResponderEliminar
  4. Adorei...
    E senti saudade do MEU PAPY:)
    Arrepiei-me:)
    SUUUrriisnhos cheios de bondade:)

    ResponderEliminar
  5. Anónimo30.11.11

    Eu, que já perdi o meu pai de mais perto de mim... fiquei a ler-te com os olhos rasos de lágrimas.
    Com alguma tristeza, é certo, mas sobretudo com muita saudade e o coração cheio de gratidão pelo tanto que sempre me deu.
    Um beijo :)

    ResponderEliminar

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.