Se é verdade que desde os tempos mais remotos o conceito e a sua experiência moveram a humanidade, de poetas a filósofos, nunca tanto como agora se falou em Felicidade.
Aparentemente, nos tempos que correm, parecemos todos ligeiramente infetados - uns de forma mais severa do que outros - com um vírus altamente contagioso que nos leva a necessitar estar sempre inspirados por algo ou alguém e a viver num estágio aspiracional constante. De uma forma algo caricata, «Ser Feliz» passou a ser a resposta automática e lógica à pergunta, «O que desejas para ti?». Mas que diabo, pergunto-me: em algum tempo, alguém teve como meta e ambição ser infeliz? Ser feliz esgota por si a condição do que somos ou queremos nesta vida? E o que é isso de Ser Feliz? Um package de luxo ou uma pomada que se compra? Somos todos felizes da mesma maneira? Alguém é feliz a todo tempo?
A ser uma meta e uma condição indispensável à vida - e defendo que é, em parte, pelo menos quando queremos experienciar em pleno quem somos - parece ter sido esquecido um importante detalhe. É que a Felicidade, como tudo o resto, é fruto de um caminho que se percorre. E que esse caminho, como todos os caminhos, é feito de escolhas. Se as fazemos bem ou não, a cada passo, cabe a cada um avaliar. Mas são precisamente essas escolhas, e os resultados delas, que nos permitem aferir o nosso grau de conforto com nós próprios. É a esse grau de conforto que genericamente chamamos Felicidade. Só que tudo isso, obviamente, dá trabalho. E, acima de tudo, obriga a passarmos um bom tempo connosco.
Se de uma forma geral toda a gente quer ser feliz, muito poucos o querem ou conseguem ser consigo mesmos. Ao primeiro beliscar de horas ou fases menos boas, aos primeiros amargos de boca depois do fim de momentos aparente ou efetivamente felizes, o comportamento recorrente é fugir de si próprio para longe. Convocam-se os amigos a todas as horas mortas, introduz-se o máximo ruído e vibração aos dias, entopem-se as emoções com doses industriais de paliativos, ainda que provisórios. Tapam-se as fendas e os buracos entretanto abertos com betume rápido feito de pessoas. Para a maioria, vale tudo menos conhecer-se bem a si próprio e tentar perceber de onde se veio, onde se está e para onde se quer ir. Resulta precisamente daí o tão atual sucesso das chamadas pessoas inspiradoras. É um fenómeno dos nossos tempos e há que encará-lo de frente. Há fome e há vontade de comer. No ecossistema social cada um se alimenta como pode.
Só que até na Felicidade, como em tantos outros objetivos da nossa cultura, o facilitismo e o imediatismo são palavras de ordem. No fundo, no fundo, queremos ser felizes como A, B, ou C, mas queremos chegar lá com as nossas escolhas. Queremos o melhor de dois, três ou quatro mundos, escolhendo dar passos opostos. Queremos os resultados mas não queremos os investimentos que os proporcionam. Ou porque dão trabalho ou porque preferimos os prazeres imediatos aos retornos que por vezes demoram. E menos ainda arriscar a investir no que possa não vir depois.
Seria bom que a Felicidade funcionasse por proximidade. Ou por osmose. Ou por injeção intravenosa. Mas não funciona. A Felicidade, para quem a ambicione e da forma como ambicione, está nas mão de cada um. Não se vende e não se ensina. Não se compra. Aprende-se na vida com as decisões que tomas. Ou não. Mas és tu que escolhes.
A felicidade é feita de momentos, ninguém é feliz todos os minutos, todos os dias. Mas cabe-nos sim, a nós, tentar encontrá-la e pode ser que a encontremos em coisas simples. Por vezes, desejamos mais do que está ao nosso alcance, ou então esforçamo-nos de menos.
ResponderEliminarÉ isso mesmo, querida Tanita. A felicidade é feita de momentos e a grande arte de a esponenciar está precisamente no equilibrio entre não passar a vida frustrado com o que não temos, valorizar o tanto que podemos encontrar dela nas coisas mais simples e esforçarmo-nos verdadeiramente para a alcançar nas metas que traçamos como importantes.
EliminarIsto são as influencias da globalização....muito anglo esta forma de pensar, não tem a minima noção do que é partilhar....confundem sentir "content" com alegria e, usam a palavra felicidade como usam "I love you"....temos que ser fortes e tomar "decisões dificeis" para não perdermos as coisas boas da nossa cultura. Onde eu cresci o dia 1 Novembro é um dia muito importante: O "Dia-do-bolinho": o dia onde nos lugares fazem bolos para se partilhar com os vizinhos e prova-se o vinho-novo ou água-pé; onde as crianças vão de porta em porta e dizem "Oh Tia! Dá bolinho".....os feriados são caracteristicas culturais...agora não há feriado para o Dia-do-Bolinho....mas as lojas vendem coisas do dia das bruxas....e as pessoas vão na cantiga...Já agora, obrigada pela suas partilhas:-)
ResponderEliminarTudo grandes verdades!
EliminarE tenho muita pena que ainda que admitindo que os fenómenos de globalização possam trazer a prática de outras tradições e de outras culturas - o Pai Natal também não faz parte do nosso Natal. O nosso Natal é o do Menino Jesus - isso implique o total esquecimento das nossas. Mas, como em tudo, somos todos parcialmente responsáveis por isso. Há que fazer a parte de cada um para o contrariar :)
Muito obrigada pela visita e comentário. Até breve!