5.6.14

Esperança




















Um livro que começou a existir na minha cabeça em 2006, a partir de um poema de Mário Quintana, este projecto vai para além de um simples livro para crianças. Nele dou trabalho intencionalmente a pais e a educadores - Um trabalho que, a meu ver, se quer feito todos os dias com os miúdos, independentemente de qualquer livro!
Neste caso, o caminho da descoberta "deste" nome, quer-se feita e entendida em parceria - crianças e adultos. 

Com ilustrações mais orgânicas e menos digitais, foi intencional este querer voltar às raízes da pintura, do desenho e das colagens.
Um livro/mapa, que esconde várias pistas durante a caminhada (leitura e imagem), onde alguns chegarão à solução mais rápido do que outros, mas todos terão vontade de repetir o percurso, mesmo depois do verdadeiro "nome tesouro" ter sido descoberto.
No inicio, estejam perto da luz :)
No fim, procurem um espelho ^_^
No entretanto façam aparecer um arco-íris ♥

É assim que Rita Correia fala do seu livro. Do seu segundo livro de autor. Fala de forma simples, despretenciosa e pura. Como é. O seu livro e ela.

Ser amiga da Rita não me tolda um milímetro de pragmatismo. Não é por contar com o privilégio da sua amizade que me desvio da clareza de espírito. A Rita é, efetivamente, um dos seres humanos mais bonitos e bem acabados que conheço, um daqueles seres que dão amor e harmonia e serenidade a tudo o que tocam e que o fazem com a mestria que só tem quem o faz como ela, discreta e silenciosamente.

Este é o segundo livro de autor da Rita. O primeiro, foi o início desta grande aventura de editar sem apoio, em português de Portugal. Num como noutro, a Rita não recorreu a campanhas de crowdfunding, não lançou foguetes antes da festa, não passou dias intermináveis a bombardear a sua página com marketing pessoal, não prometeu salvar o mundo nem educar crianças para os valores fundamentais. Num livro, como noutro, a Rita trabalhou com afinco, com paixão, com entrega e com esperança. Num e noutro, a Rita fez tudo isso e ainda ilustrou outras quantas obras de outros autores, e cartazes, e um sem numero de coisas. E foi mãe de dois pequenos, e mulher do seu marido, e dona de casa, e dona de gato.

Nos seus lançamentos, a Rita escolhe o ar livre, pensa nos detalhes e na simbologia com que tudo recheia. A Rita é a menina que pendura livros nas árvores para que os saboreemos à sua sombra, a menina que nos faz ser parte integrante da sua festa como seres únicos que somos, que nos interpela, que nos abraça e que nos responde. A Rita faz o bolo ou as bolachas para os meninos comerem, a Rita compõe a música e canta como uma Mulher Grande que é.

A Rita não criou um instagram fofinho para bombardear de imagens polidas de filtros, nem passou a vida a falar dos blogues da moda para tentar chegar mais depressa aos seus objetivos. A Rita não fez nada disso porque, simplesmente, esse não é o seu mundo, essa não é a sua praia. A Rita faz um caminho mais longo e no entanto muito mais sólido e coerente, sobretudo porque é o seu.

E eu sei que isto que digo, com uma certa desilusão, confesso, não ocupa sequer um segundo do pensamento da Rita. A Rita faz o que lhe vai no coração, luta pelo que ele lhe diz e mergulha de cabeça no que quer que faça. A Rita não tem tempo para pensar nisto que digo, porque todas as suas horas e minutos dos dias são ocupados a fazer pelo que quer e não a auto promover-se para lho darem de mão beijada. A Rita não tem fortuna pessoal nem foi pai-trocinada. A Rita sonhou, trabalhou [muito!] e conseguiu. Ponto final parágrafo.

É por conhecer a Rita que cada vez mais, quando oiço falar em crowfunding, me encolho. É que, nesta vida, a idade e a experiência vão-nos dando a sensatez e lucidez suficientes para já não dar para certos peditórios. E eu, que já vi gente que os desencadeou e promoveu em proveito próprio e que a cortar a meta empurrou para fora da corrida todos os que a si acompanhavam para vencer a medalha como se fosse apenas mérito seu, pego nas páginas do livro da Rita e folheio a sua beleza, detalhe e mensagem cheia do nome em forma de adivinha.

Ainda tenho Esperança que um dia as pessoas que não precisam de palavras redondas, de clichés, de instragrams, de blogues que promovem roupa, família, crianças, dietas ou receitas, de frases feitas e mantras tenham o devido reconhecimento. Tenho Esperança que o mundo não seja apenas das pessoas fancy e trendy por fora e mal acabadas por dentro e que o rei que vai nu deixe de ter gente a aplaudir as suas vestes. Afinal de contas, a Esperança, dizem, é a última a morrer. 



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