13.6.14

Há festa na escola


Há poucas sensações tão intensamente guardadas da nossa infância e juventude escolar como os últimos dias de aulas.

Os últimos dias, a última semana de um calendário escolar, é uma espécie de enamoramento a posteriori. Dificilmente conseguimos explicar como, depois de tantos meses em que desejámos dormir até mais tarde, não ver mais os professores, não ter testes nem livros para folhear, de repente, nos últimos dias, nas últimas semanas, nasce assim um amor maior àquele portão que se atravessa no escoar das últimas horas, rumo às salas que tão pouco antes repelíamos e ao pátio de que já andávamos fartos. 

Foi assim comigo, terá sido assim convosco. É assim com a minha filha e tantas outras crianças e adolescentes de hoje. A última semana de aulas é literalmente mágica.
No último dia chora-se e, sempre que o fim do ano letivo obriga a uma mudança de escola, juram-se algumas amizades eternas. Como todas as amizades de Verão. Abençoadas!

Nos últimos dias há música, há festa e, seja qual for o desfecho do ano letivo, há um alívio explicito no ar. De alunos e de professores. Um sentimento geral de missão cumprida. Um saldo em que quase sempre ganha o haver ao dever. 

À porta de minha casa mora uma escola de pequeninos. Moro naquilo a que a polidez da cidade chama periferia e a que eu faço questão, em nome da verdade que não se altera pelo léxico, de chamar subúrbio. Quem vive nos subúrbios da cidade sabe que há uma realidade que é diferente. Não melhor, não pior. Diferente, por ser peculiar. Na escola que vive à minha porta, todos os anos, nos últimos dias, há sempre música popular e marchas a tocar. Os meninos ensaiam, divertem-se. A voz dos professores, mais leve e mais entusiasmada, dá as coordenadas. No último dia a minha rua fica cheia de carros e eu sem lugar para estacionar. Os pais vêm à escola para ver o que os meninos ensaiaram, para celebrar mais uma etapa do caminho, para cumprir mais um ritual. E há qualquer coisa que nos subúrbios da cidade se vive de forma diferente, até na escola. Tão diferente e ao mesmo tempo tão doce e simples como tratar o vizinho por vizinho, quando dizemos bom dia no elevador. Gosto tanto!

Depois do dia último, a minha pacata rua volta a ficar ainda mais silenciosa. No recreio da frente deixam de cantar os sorrisos dos pequeninos e deixo de ouvir o tom alto dos professores de ginástica. Em Setembro, a vida retoma o ritmo que o calendário lhe impõe. Regressar sabe sempre bem. Há sempre muito para contar sobre o que se fez no mais longo dos intervalos. E ainda que o encantamento do regresso seja sol de pouca dura, quando de novo o novo ano terminar, a paixão pela escola que finda vai estar ao rubro. Assim são tantos outros ciclos de vida que vivemos, sem nos darmos conta. Focamos-nos tanto no que não gostamos no durante e apaixonamo-nos tão intensamente perante os fins anunciados. Seria tão bom que na escola e na vida aprendêssemos a desfrutar mais da viagem.


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