O Deixa entrar o Sol vai regressar. Pelo menos, esse é o desejo que trago embalado no coração há algum tempo. Como sempre na minha vida, sou de dar tempo ao tempo, para que ele arrume os desejos, os projetos, os avanços e os recuos na consistência dos dias e para que, depois de os iniciar ou reiniciar, não caiam por terra e voltem à casa de partida ou se esfumem, definitivamente.
Há coisas, formas de ser e estar, que a vida vai moldando com o tempo. Arestas que são limadas e outras que, ao contrário, se tornam mais aguçadas das esquinas e dobras das nossas almas. Mas outras há que permanecem imutáveis. A essas chamamos Essência. E na minha essência mora sempre esta ponderação silenciosa, que muitas vezes parece esquecimento ou alheamento, mas que na realidade é um processo de maturação fermentada. Depois, ou vai, ou racha. Como não é percetível aos outros - a não ser que me conheçam o avesso e saibam interpretar os meus sinais mais subliminares e, acima de tudo, os meus longos silêncios sobre alguns temas - muitas vezes, parece que um passo, uma decisão, surgem do nada, fruto de um ímpeto, capricho ou espirito aventureiro. Nada mais longe do que sou ou faço. E se nada em mim é estudado ou demasiadamente preparado, pode até parecer uma incoerência em dizer que não nasce de um impulso. Mas são universos diferentes, paralelos, para mim. Um nasce da necessidade de controlar tudo, de tentar atingir sempre o patamar de uma certa perfeição, nem que seja aparente, com que não me identifico. O outro, o meu, nasce da necessidade de antecipar riscos e no topo deles o do assumir e poder quebrar ou não um compromisso. Antes de mais comigo. A vida é uma constante gestão de expectativas. Há que se honesto e comprometido com os nossos propósitos porque, no fim da linha, eles mexem com os dos outros e há uma enorme dose de responsabilidade nisso.
Regressar ao blogue não tem uma missão tão nobre, nem tão relevante, que se aplique ao que acabei de dissertar, mas tem em mim o impacto de uma decisão de fundo: regressar à escrita e à partilha de imagens que me conduzam ao reencontro de uma Margarida que hibernou há algum tempo.
Muitos fatores contribuíram para esta decisão. Desde o recorrente desafio de família e amigos, até ao reencontrar de "coisas" antigas, como ainda ontem aconteceu, ao descobrir numa pen uma entrevista de rádio pela ocasião da publicação do meu segundo romance... Foi chocante e comovente, ouvir aquela pessoa que era eu e sentir que tudo aquilo tinha sido noutra vida, tanto que já nem recordava uma boa parte do que nela mencionei... Alerta vermelho, para uma alma criativa e criadora, como a minha... "Está na hora de ires ao teu encontro, Margarida", pensei.
Esta manhã, quando amadurecia a ideia do texto desta publicação, percebi ainda que existe um motivo tão ou mais importante neste regresso: o legado que quero deixar à minha filha; o gosto e o respeito pela palavra; o valor e a relevância da comunicação; a importância de crescermos na partilha saudável de experiências de vida; a gratidão por através de tudo isso nos revermos ou ampliarmos com e nas histórias de quem se cruza connosco. E ela, que escolheu a Comunicação como forma de vida, perceberá cada vez melhor o que digo e sinto, quanto a estas questões.
É também por ela e para ela que regresso a esta minha querida casa e que retomo o #Project6. Neste regresso, com outro nome " A vida dá um livro". Porque não raras vezes a realidade ultrapassa a ficção. E porque nenhuma história nasce do vazio.
Esperança tenho eu que, ao alimentar-me das histórias das minhas "convidadas", um novo enredo, feito de linhas e letras, se construa dentro de mim.
Até breve!
Margarida