- uma boa parte do meu mundo -
13.12.15
6.12.15
Project#6 | Rita Correia e Ana Afonso ✩ Ilustradoras
O cenário não pode ser mais apropriado, de tão idílico.
Rodeia-nos a magia de um bosque encantado, entre o suave som das folhas que se desprendem das árvores e a natureza que espreita, curiosa mas atenta aos nossos mais ténues movimentos. É Outono. A temperatura é suave. A luz uma benção. O chão é um denso tapete de folhas. O silêncio convida à comunhão.
Estamos na Tapada de Mafra. A Rita e a Ana sentem-se em casa. Eu também. No meio de um passeio que se prolonga e dispersa a cada recanto, a cada avistamento de um veado, a cada raio de sol por entre a vegetação, conversamos. Em segredo, observando-as por vezes à distância, procuro desvendar-lhes a alma com a lente da máquina fotográfica.
Em comum, temos o incondicional e desmesurado amor à Natureza e a paixão pela ilustração. Elas são artistas. Eu uma fã deslumbrada pelo seu trabalho. No que nos alicerça na Natureza, estamos em absoluta sintonia. Na ilustração eu sou menos do que uma aprendiz de feiticeira. Para elas, para o seu talento, vai a minha vénia.
As palavras são como as cerejas. As Pessoas inteiras são como um Maná, para mim.
Rita Correia (RC) e Ana Afonso (AA) são as primeiras entrevistadas do Project#6.
A aventura começa hoje e eu tenho a certeza absoluta que não podia começar com melhores energias!
Em uníssono - 20 anos!!! (risos)
Se fossem um animal, que animal seriam e porquê?
RC - É um número estranho de dizer, porque embora possa parecer cliché... não parece mesmo nada que esse espaço de tempo passou. Talvez porque nunca tenha havido nenhuma pausa na nossa amizade durante todos estes anos. E essa é a parte melhor.
E onde é que se conheceram?
AA - Na Faculdade de Belas-Artes de Lisboa. Entrámos em 1995 no curso de Artes Plásticas - Pintura e fomos colegas durante 5 anos – que era o tempo que demorava a licenciatura.
RC - Ficámos nas mesmas turmas em várias cadeiras. Formámos um grupo coeso praticamente desde o início, e que vamos conseguindo manter desde então.
Lembram-se de alguma história engraçada, passada entre vocês, nesse tempo?
(entreolham-se, cúmplices)
RC - Ah, a melhor de todas! A nossa ida em conjunto com mais alguns amigos da Faculdade a Paris, em Janeiro do ano 2000. Durante os poucos dias em que estivemos por lá, por sermos estudantes de arte tivemos livre acesso e visitámos grande parte dos museus, mas o último dia acabou por ficar reservado para uma visita à Disney. Tínhamos o privilégio de ter o então namorado de uma amiga como nosso guia, e inesperadamente, acabámos por prescindir do último dia de "museus" pelo "Palácio da Cinderela" (risos). Foi uma viagem que, sem dúvida, nenhuma de nós esqueceu.
AA - Temos muitas! Muitas. Rita, posso contar aquela?... (risos, perante o consentimento comprometido da visada)
A que gosto mais de recordar (eu e os amigos) foi o começo da relação da Rita com o marido. Ela gostava de um rapaz que andava lá na piscina... e pelo aniversário do Sérgio (agora marido) ela desenhou-lhe um leão (eram os dois do Sporting) com uma dedicatória qualquer... e aquilo levou ao momento do “temos de falar”. E de repente a pacata Rita, que era um pilar de compostura e bom senso aos nossos olhos, passou alguns intervalos com as mãos na cabeça a dizer: «aaaiiiii....» «aaaaaiiii o que é que eu fui fazer?!!». «E agora?!»
Hoje em dia nos jantares com a maltinha dessa altura ainda nos rimos com isto: pomos um ar preocupado, mãos a esborrachar as bochechas, olhamos para alguém e lá sai: «Aaaaaaaaaiiii..... o qu’é qu’eu fui fazer ?!!» ! «Aaaaaiiii!! E agoooora?!»
E agora... foi feliz para sempre!
Quando é que descobriram este bichinho da arte, dentro de vocês?
Que papel acham que tem a ilustração, sobretudo no mundo infantil?
RC - Eu, tão cedo quanto gostava de brincar. Desde os meus 6 anos, que os trabalhos manuais e o ter de desenhar eram os pontos altos dos meus dias escolares. Envergonhava-me que a professora mostrasse tantas vezes os meus trabalhos como exemplo, mas ainda hoje me lembro da sensação de realização... e de alguma estranheza. Não percebia porque é que os meus colegas não desenhavam como eu, afinal para mim aquilo tudo era tão lógico - era só ver e reproduzir. Só! (risos) Foi mais tarde que percebi que "isto" do gostar de desenho não nascia naturalmente com todas as crianças, principalmente quando acabava por passar metade do tempo dos recreios a desenhar "snoopys" nos cadernos das minhas colegas.
AA - Arte, arte... fiquei presa a essa definição... ainda não sei bem o que é isso Margarida! Mas o bichinho de desenhar mordeu-me muito cedo. Se me dessem papel e lápis eu “desaparecia” da lista de preocupações. Eu era a miúda que ficava presa a uma mesa, por vontade própria, que não se ouvia nem ia a lado nenhum durante horas. Isto para os adultos é uma benção! Assim, devem ter elogiado os desenhos ou o comportamento e pronto, fiquei viciada em querer fazer melhor e melhor. Isto aconteceu antes da escola primária, em casa da minha “avó emprestada”, a D. Adelaide.
Quando cheguei à primária sabia desenhar melhor que todos os colegas (incluindo as outras turmas - uau!), depois ganhei um prémio de desenho da Junta de Freguesia na 2ª classe e foi assim que uma Carneiro descobriu uma maneira fácil de deixar os pais orgulhosos - ainda por cima era só fazer mais do mesmo e eu adorava aquilo.
Pouco depois vinham os rótulos e as expectativas: “tem um dom”, “mas ela é assim tão sossegada? ah! é artista!”... e as consequências: “O que queres ser quando fores grande?” “- Pintora”!
Como milhares de raparigas também hesitei sobre o meu futuro emprego, na famosa trilogia bailarina/veterinária/pintora... mas fui pela exclusão de hipóteses: para bailarina era gorda e para veterinária faltava-me o sangue frio de ver sangue quente. Pintora? ...Sim, por favor.
São ambas ilustradoras. O que é isto da ilustração? Qual foi o fio condutor, até chegarem aqui?
RC - Para mim é, acima de tudo, ter um prazer desmesurado em dar vida no papel ao que vemos, pensamos e vivemos. É brincar com a nossa imaginação, a nossa criatividade e deitar tudo cá para fora, em desenhos. Na verdade nunca pensei na ilustração como profissão. Aliás nem sequer havia referências ou cursos que nos levassem a escolher esta via, pelo menos cá em Portugal há 20 anos. Lembro-me de responder durante muito tempo, a quem me perguntasse, que queria ser "desenhadora de desenhos animados". Fascinavam-me os desenhos animados na televisão! Sabia distinguir o que era cenário do que eram os objectos ou bonecos que se iriam mover. Nas gravações em VHS chegava a utilizar o botão de pause e play só para conseguir ver frame by frame determinada cena. Dizia que queria ir trabalhar nos estúdios da Disney, nem que fosse a lavar as escadas e depois, quem sabe me chamavam para os desenhos ou para as músicas. Esse "sonho", ou essa possível meta, era um bom suporte que, de certa forma, não me deixou desistir deste rumo.
AA - A ilustração para mim é... filha do meu affair com o Desenho (risos)
É o meio de comunicação que me permite chegar às pessoas, grandes e pequenas. Pintar telas não funcionou então resolvi pintar livros.
O fio condutor... acho que a “culpa” é (sempre!) do meu irmão que trouxe o suplemento DN Jovem e me perguntou se queria enviar desenhos. Tinha 17 anos quando o editor “Manel” Dias (hoje reformado e meu amigo de coração e corridas) telefonou para casa dos meus pais para saber se era mesmo eu que fazia aqueles desenhos. A partir daí, de vez em quando, ganhava um livro, ou dois, ou três... e isso era a validação de que eu precisava.
Na pintura as menções honrosas davam mais uma linha no CV... na ilustração, davam-me livros, aparecia no jornal... e pronto, mais uma vez os pais da miúda Carneiro tinham um sorriso de orgulho. Não se consegue fugir a isso.
Depois, mais uma vez entra a exclusão de hipóteses: na Pintura não consegui uma saída profissional válida - era preciso ter competências sociais que uma miúda tímida, como eu era, simplesmente não desenvolveu até aos 23 anos! Tímida mas teimosa - sabia que o caminho era pelas artes e então investi mais ainda. Fui para um mestrado de Desenho pois essa sempre foi a paixão de base. E tinha um pé na profissão porque já estava a ilustrar para manuais escolares... podia seguir a carreira académica... dar aulas... Mesmo antes de acabar o mestrado fiz um curso de multimédia, onde entrou o Photoshop e noções básicas de como me mexer no mundo digital. A partir daí foi produzir e bombardear editoras. A timidez que não me deixava expor-me nas galerias era agora combustível para enviar emails e portfólios.
Foram-me dando trabalho e alimentando este bicho que ainda me morde cada vez com mais força.
Qual é a vossa relação com a natureza? Qual é o papel dela no vosso trabalho e como é que a transportam para ele?
AA - É o que estás a ver no nosso passeio: Grounding. É uma relação mãe/filha. Ser/Estar.
Quero deixá-la orgulhosa de mim. Quero Estar sendo um bicho digno da energia que ela me dá. Será cumplicidade e reverência o que descreve melhor esta relação?
Cumplicidade porque ela é mãe e religião. Aquele poema do Fernando Pessoa sobre os montes, e o Sol e o luar? Ela é isso para mim. É tudo, é a matéria de onde vim, para onde vou, é parte de mim e eu dela.
Reverência porque ela deu-me este corpo, um templo móvel que eu levo para correr, para comungar! Se ela me dá energia e providencia trilhos em Monsanto e nevoeiros à beira-rio para eu poder recarregar baterias... eu vou! Eu vou e agradeço.
O papel dela no meu trabalho... Ela é a energia que me faz riscar a folha e é literalmente o papel que risco. É a árvore que me deu essa folha de papel! É o modelo das coisas que desenho, é a sensação de deslumbramento, luz, beleza, paz, força, magia, fé, ternura que tento transportar para os desenhos. O António Gedeão fazia isto com as palavras. Eu quero chegar a esse nível com a ilustração.
Pronto, mas agora esperem lá que isto soa tudo demasiado poético (risos)... é que na prática, correr dói. Dói durante uns bons 20 minutos antes das endorfinas começarem a fazer efeito. E a parte de desenhar?! Blá blá blá tão bonito? Sim, é verdade, mas só ao fim de muitos desenhos frustrados é que conseguirmos algo de jeito! Temos de ter fé e endurance para colher da Natureza e de nós mesmos o que queremos.
RC - É um pouco tudo isto que a Ana diz. A Natureza para mim é como se fosse a parte feminina de Deus. Como uma espécie de Amor incondicional que nos é dado todos os dias e que, infelizmente, tantas vezes ignoramos.
A natureza traz-me a calma, a paz, mas também traz a morte... assim como a renovação... a esperança... Transporto-a para o meu trabalho da forma mais clássica, por via da inspiração que inevitavelmente ela dá. Sempre que tenho oportunidade de a incluir nos meus trabalhos, não hesito. No meu último livro de autor, fui ao extremo de a utilizar e coloca-la em destaque... e deixa-la ajudar-me a falar o que precisava.
AA - Ui. Temos tempo para uma conferência?!
Hoje em dia a ilustração tem um papel muito importante porque vivemos num mundo cada vez mais ligado à comunicação visual. Homo sapiens sapiens semioticus!
No mundo infantil, como perguntas, o papel da ilustração é quase infinito. Ludopedagógica, mediadora de afetos, desenvolvimento pessoal, formação estética, ética e literária... não sei se há uma lista (risos). Penso que podemos dizer que tem tantas funções quantas as que conseguires extrair dos conteúdos que estão presentes em imagens ou texto e das sensações hápticas do objeto (livro ou tablet).
Muitos papeis... e agora que nos aproximamos do Natal tem ainda o papel de embrulho, por fora.
RC - Tendo em conta que todos nós nascemos sem saber ler nem escrever, é pela representação gráfica que começamos a comunicar. Quando crescemos tornamos-nos pessoas muito cheias. Cheias de vivências, desgostos, amores e... coisas... muitas coisas que nos ocupam espaço cá dentro e vão ocupando espaço às que valem realmente a pena. Os miúdos ainda estão numa fase pura, e claro que olham para as ilustrações com olhos de quem vê de verdade. Como ilustradora tenho um respeito tremendo por essa fase pura de vida. Passei por ela e recuso-me a esquecer que, o que aprendi em criança, aprendi com esse olhar ingénuo. É exatamente isso que me ajuda a estruturar as minhas ilustrações como adulta. A ilustração a nascer, terá de respeitar acima de tudo a visão infantil, em primeiro lugar.
RC - Agora acho que seria um qualquer felino. Antes de ser mãe, talvez respondesse facilmente que seria um golfinho. Era e sou naturalmente uma pessoa que vê na água uma espécie de segunda casa. Cheguei a conseguir suster a respiração 2 minutos inteiros em apneia e a sensação de me sentir imersa é de uma paz sonora pura e perfeita. A partir do momento em que fui mãe, talvez escolhesse um qualquer felino. Lembro-me perfeitamente do que senti no momento em que tive pela primeira vez o meu bebé nos braços. Ao ter determinadas pessoas por perto, tive verdadeiros acessos instintivos felinos, de querer atacar e desfazer (risos)!
AA - Eu era de certeza um LOBO! Porque são bichos admiráveis, e porque de facto tenho trabalhado todos os dias para ser mais lobo do que macaco (risos). Para se compreender isto é preciso crescer a ver documentários de vida selvagem, ler os livros como “O filósofo e o lobo”, ou “Mujeres que corren con los lobos” ... mas vá, resumindo: seria Lobo porque tanto individualmente como em grupo são fortes, leais, incansáveis, corredores, tímidos, perspicazes, letais, lindos, assustadores, fantasmagóricos, magníficas criaturas éticas e estéticas.
Vá, também podia ser musaranho... só para desdramatizar.
Vá, também podia ser musaranho... só para desdramatizar.
És Terra, Ar, Fogo ou Água? Porquê
AA - Posso ser vapor? É que teoricamente o meu elemento é o Fogo mas na prática somos 70% água! Ora... juntando os dois o que temos é vapor! ...mas também posso ser eletricidade porque aos 6 meses apanhei um choque de 220 volts (que me deixou esta cicatriz no lábio) e até hoje sinto-me sempre com volts a mais no sistema (risos)
RC - Somos tão parecidas!... (risos). Água por fora e Fogo por dentro. Sou de facto bastante serena, suave e vou-me deixando levar ao sabor da maré a maior parte do tempo. Mas sei também ser determinada quando tenho de ser. Fui percebendo esta minha dupla faceta ao longo do tempo, e dou graças por não ser só e apenas "água doce". A verdade é que com o avançar dos anos e das inevitáveis desilusões, tenho-me tornado mais forte, felizmente. Acho, por isso, que é aí que tem entrado o "Fogo" que me contrabalança tanta Água - felizmente.
Falemos agora um pouco mais de cada uma.
Rita, tens muita obra tua espalhada por muitas publicações e autores, mas tens também dois livros teus, em edição de autor. Fala-me um pouco desse desafio, da "edição sem rede". O que te deu balanço e qual é o balanço que fazes?
RC - O que me fez avançar foi ter ficado com a certeza de que se estivesse à espera que o trabalho e as oportunidades me viessem parar ao colo, bem que podia esperar sentada. Houve um momento em que percebi que tinha mesmo de avançar. Tive noção do risco, mas também percebi que era um momento de tudo ou nada. A verdade é que estava prestes a desistir da ilustração como profissão.
Tinha dois filhos pequenos e estava numa verdadeira situação de impasse. Ser iluminada pela ideia do "Um Livro para Ti" fez-me voltar a acreditar que até poderia conseguir alcançar a já tão longínqua luz ao fundo do túnel. 3 anos e meio depois o balanço não podia ser melhor. Não porque tivesse enriquecido por aí além, mas porque a sensação de realização e compensação direta pelo meu trabalho fez-me sentir finalmente num rumo certo - muito mais suado, mas sem dúvida o certo.
Ana, nas tuas ilustrações há uma forte presença de animais personificados. De onde te vem essa inspiração, essa referência? Já alguma vez pensaste em fazer como a Rita, uma edição de autor?
AA - Vem de muitos sítios. Vem da bicharada que eu adorava quando passava férias em Trás-os-Montes, vem da televisão... lembram-se de ver o Manimal? O Cão Vagabundo? A Lassie? O Black Beauty?... Acho que sou apenas mais uma pessoa da “National Geographic Generation”. Li isto em algum lado – que existe uma geração mais preocupada com o planeta justamente porque cresceu frente à TV a ver documentários de vida selvagem. Os meus amigos da colheita de 70/80 também se lembram do grito da Arca de Noé: “Os animais são nossos amigos!” Naquela altura os Humanos tinham perdido a fé na própria espécie pela milésima vez e transladaram essa crença do bom selvagem para os bichos da Vida Selvagem! Acho que hoje estamos a reviver isso.
Ah, e por ser tímida também me chamavam “bicho do mato” e então a identificação cresceu, cresceu, cresceu... na minha cabeça, em tempos, eu tinha a certeza que devia ser mais bicho do que Ser Humano. Sendo Carneiro também tive um fascínio por faunos e depois por centauros, minotauros... e as referências vieram de todos os lados: Mitologia Egípcia, das BDs do Enki Bilal e dos livros do Blacksad, Grandville, Charles Le Brun, desenhos animados das “ Fábulas da Floresta Verde”, Beatrix Potter, todos eles andam no meu Instagram na pasta “Zoomorphics”.
Edição de autor? Sim. Penso muito nisso e vou fazer. Parte da minha missão é ter lucros suficientes para reverter para os bichos ou devolver à Natureza. Como ainda não consegui parceiros na indústria livreira que levem esta ideia a sério (pois eles precisam das comissões de edição, armazém, transporte, marketing)... resta-me a edição de autor. Estou a trabalhar nisso. 2016!
E és uma desportista nata. O que mais gostas de fazer e o que te move, nesses desafios?
AA - E se eu disser que só comecei a correr aos 28 anos? Eu era a ovelha negra de uma família super-fit e, acreditem, quando se olha em volta e se tem uma mãe elástica, um pai polícia com 1,80m e irmão com 1,82m com alcunha de Schwarzenegger... sério... uma criança desiste e limita-se a ter boas notas e pensar “they got the looks I got the brains”. Acentuando o nosso sotaque mirandês ainda sou a “retchinxuda” para o núcleo familiar mais próximo. Por sorte, mesmo rechonchuda gostava de andar de bicicleta lá ao pé do rio e sem querer ganhei pernas para o que faço hoje aos 38 ... faz 10 anos que comecei a correr.
O que mais gosto de fazer? Mexer-me! Sentir os elementos na pele com o frio ou calor que os acompanham. Sou feliz a saltitar entre trail, kick, bike, run, surf, paddle, kayak... cada um tem os seus encantos e sensações que no fundo levam ao mesmo: o tal ritual de agradecer o nosso corpo e estar em comunhão com a Natureza.
O desafio é estar bem na minha pele e o que me move é a curiosidade: “será que consigo?...”, “será que consigo fazer uma maratona sem parar?”, “será que depois daquela curva o rio é mais calmo?” “será que consigo fazer esta subida sem desmontar da bike?” “será que esta onda me deixa apanhá-la?”, “será loucura correr de noite na floresta?” e como as respostas a estas perguntas são tão boas, fazem-me sentir tão viva, tão feliz, não há como parar.
Além disso... não tenho realmente escolha porque se paro fico em estagnação, fico doida. É como se o tal vapor (em vez de sair) solidificasse e caísse como chuva cá dentro e essa chuva é fria e ácida, estraga-me o dia, já testei várias vezes e não vale a pena. Mais vale tirar umas horas do dia para me mexer do que enlouquecer durante todo o dia mais umas horas!
Outro desafio, esse consciente, é fotografar o nascer do sol todos os dias e pôr a foto no Facebook (ou Instagram) para dizer “bom dia” aos amigos. Aqui move-me a alegria de partilhar os cenários que apanho e claro, os likes! (risos)
Rita, tu és toda arte... há em ti outra vibração tão ou mais expressiva do que esta das belas artes, que te levou à ilustração. A música faz completamente parte do teu ADN. Ainda hoje, por aqui, te fartaste de cantar! Fala-me disso.
É uma paixão! Sempre tive a música como meu plano B. Embora nunca tivesse tido grande motivação para tocar um instrumento, tinha a minha voz que sabia intuitivamente ser bastante afinada.
Durante a minha adolescência é que me comecei a dar conta deste pequeno pormenor. Todas as músicas que passavam na rádio e de que gostava e sabia serem adequadas à minha voz, eram gravadas em cassetes (pois... cassetes!) (risos) que posteriormente eram passadas a pente fino para lhes "sacar" as letras.
Lembro-me especialmente do dia da morte de Tom Jobim (8 de dezembro de 1994), pois foi só nesse dia que soube da sua existência, ou da sua relação com algumas músicas já conhecidas. Gravei um programa especial de rádio sobre ele e se ainda hoje canto o "Desafinado", encadeado no inicio da "Wave" foi por causa dessa gravação.
O Jazz de Gershwin por exemplo, ou as vozes femininas desse estilo musical de Jazz dos anos 30, foram também responsáveis pela minha insistência no canto.
Gosto de cantar... MUITO! Muito mesmo! Não ao ponto de querer fazer disso vida, mas ao ponto de não conseguir passar um dia sem cantar... Ter conseguido, escrever e musicado a minha primeira música para o meu último livro, deu-me a certeza absoluta, que por mais que eu possa ter dúvidas, as artes fazem definitivamente parte de quem eu sou, e de como é a melhor forma de deitar cá para fora o que sinto.
Podia aqui ficar uma eternidade a responder a esta tua pergunta... Não preferes que te responda a cantar uma musiquinha? (risos)
✩ fim ✩
1.12.15
Adeus Novembro - Olá Dezembro
E finalmente chega Dezembro, o mês último do ano.
A pergunta vai-se generalizando.... Já? O ano já está a chegar ao fim?
E é a pressa com que vivemos, as metas que nos impomos, tudo aquilo para que o dia-a-dia nos solicita, empurra ou puxa, que gera este sentimento de que os minutos, as horas, os dias, os meses nos fogem. Falo por mim, que estou sempre a fervilhar de ideias, de projetos e de encontros que não quero deixar escapar. Porque a vida é demasiado rápida, porque o hoje e o agora são a única realidade que temos, a única de que podemos desfrutar e porque há tanto, tanto por fazer, dizer, viver, partilhar!
Dezembro chega finalmente, mas não se pode dizer que seja de mansinho. Chega no ritmo que lhe ditámos, no meio da velocidade e voracidade com que vivemos.
Chegou o mês de lavar os cestos, de peneirar a "wish" e a "to do list" que fizemos em Janeiro e ver o que resultou do garimpo. Por aqui, até dia 31 de Dezembro, ainda é vindima!
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