Enquanto mulher, mãe e educadora é impossível cruzar-me com um artigo tão brilhantemente clarividente
como este e não o partilhar.
Uma excelente, excelente abordagem sobre todo um método de educação geracional.
Na exata medida do que defendo e pratico. E a filha cá de casa bem sabe, de cor e salteado, que para bem dela, muito para além do amor incondicional e até em nome dele, um dos meus principais papeis é proporcionar-lhe um adequado e sensato numero de frustrações.
Apoiar um filho nas suas dificuldades e nas pequenas injustiças que vai sentido nunca foi para mim moldar-lhe um mundo à medida. Por aqui, por exemplo, sabe-se que se um professor não for tão justo quanto o aluno merecia o segredo é aprender com método, respeito e verdade a mostrar-lhe o quanto estava errado no seu juízo ou conduta. E se esse é o caminho mais longo é também o único que prepara, à sua pequena escala, a longa caminhada profissional da vida adulta.
No mundo do quero, posso e mando tudo, a rédea sempre foi e sempre será curta. Não tenho - nunca tive - uma filha que tomasse tudo por garantido ou que fizesse birras em bebé ou amuos em mais crescida, para pedir ou ter fosse o que fosse. E isso em nada se prende nela com a ausência de uma personalidade forte ou determinada, obstinada muitas vezes, mesmo. Simplesmente sempre foi claro que esse nunca seria o caminho que a levaria ao que pretendia.
Não raras vezes, a propósito de pequenas discussões do dia a dia, em que cada uma puxa para o seu lado e esgrime argumentos para defender o seu ponto de vista, oiço a frase Ó mãe, por amor de Deus, estávamos só a falar do tabuleiro do pequeno-almoço e tu já vais na organização do mundo e em filosofias de vida!
E vou, pois vou, e não raras vezes lhe respondo Aproveita minha rica filha, que há muitos adultos a pagarem pipas de maça para fazer workshops a ver se aprendem o que aqui te ensino de graça.
Por aqui, para que não haja dúvidas, muitas vezes esclareço que as obrigações de uns pais - porque nenhuma criança pede para vir ao mundo - são proporcionar adequada alimentação, educação e cuidados de saúde a um filho. Esta ou aquela marca de cereais ou batatas fritas, este ou aquele dossier, esta ou aquela escola, este ou aquele telemóvel [até determinada idade de necessidade e utilidade muito discutível], este ou aquele pc, não fazem parte do pacote das obrigações parentais.
Uma coisa é, cumulativamente, podermos, eles terem idade em cada uma das suas etapas, e fazerem por merecer. Outra bem diferente é proporcionar-lhes tudo o que o dedo aponta ou a cabeça idealiza só porque sim, a tudo o custo, a qualquer preço, apenas ensombrados pela angústia e frustração dos meninos e meninas. Absurdo. A frustração é um dos principais obstáculos interiores e exteriores com que vão ter de aprender a lidar se quiserem ter uma vida feliz. Sublinhe-se que aprender a lidar com a frustração não é de todo aprender a desistir do que queremos ou merecemos. É aprender a lidar com compassos de espera, com avanços e recuos, com respostas negativas, com as mais simples contrariedades mesmo quando aparentemente estava tudo garantido.
E não, aos catorze não se pode ir a todas as festas, nem ter todas as roupas que gostaríamos, nem todos os
gadgets começados por
i, nem um baton da Chanel. Aos catorze anos podemos gostar disso tudo, podemos ter e fazer algumas coisas dessas, com conta, peso e medida... e podemos sempre celebrar o aniversário com
a surpresa de um bolo que nos faça sorrir ;).
A acrescentar, nunca me canso de repetir Eduardo Sá, «todas as boas mães são suficientemente más». E se é verdade que o título do artigo que partilho é propositadamente polémico, porque para nós um filho vale tudo, não é menos verdade que o que ele mais merece é que não lhe vendamos uma vida de gato por lebre. Uma vida real é o melhor que temos para lhes dar. E nem vale a pena hesitar nisso.