Não me recordo como se chamava. Não retive. Apesar de tudo, acho que nenhum nome lhe fica melhor do que O Senhor das Andorinhas.
As festas de Tavira na rua. O mercado de artesanato alinhado na praça. O coreto a meio e ao fundo o antigo Mercado da cidade.
Em escala real, ninhos esculpidos no barro, habitados por crias, ora curiosas, ora suplicantes. Bicos abertos evocando os pais. Soube que era aquele presente que este Verão queria oferecer aos meus.
Na banca, um Senhor sorridente. Apeteceu-me roubar-lhe um bocadinho da sua história e ele consentiu.
Nunca fora artesão, até há 18 anos atrás. Ninguém, nas suas raízes o fora. Não sabia nada da arte de moldar o barro. Vivia mergulhado na informática, nas horas que se consomem num trabalho que realiza mas aliena do resto. Corria atrás do tempo dos outros, na virtualidade de um tempo seu que não o fazia feliz. Um dia, consciente, fechou a porta. Foi assim que o barro da vida que desejava se moldou. Com mais trabalho, com mais dúvidas, com mais incertezas - das outras, das financeiras - mas com uma qualidade de vida de que nunca se arrependeu.
Se outra dúvida existisse, o sorriso, honesto, rasgado, iluminado, foi a chancela.
E as andorinhas... as andorinhas são uma nobre e especial ave. Elegantes, bonitas, felizes. Por muitas milhas que façam, voltam sempre ao mesmo ninho, com o mesmo par, ao longo da vida. Sabem sempre, sempre, o caminho de regresso a casa. Por isso os marinheiros as tatuavam nos braços.
E eu, que sempre disse e digo que nunca farei uma tatuagem - nunca digas nunca, nesta vida! - sei que se alguma vez a fizesse seria o voo de uma pequena e discreta andorinha, símbolo da rota certa e da família, que desenharia na pele.
Bonito sorriso! Para quem estaria ele a olhar?
ResponderEliminar:)
E que dizer da escrita? Adorei!
Estava a olhar para a objetiva! ;)
ResponderEliminarObrigada!